São Paulo, segunda-feira, 3 de abril de 1995
Próximo Texto | Índice

Responsabilidade coletiva

A estabilização depende cada vez mais da credibilidade do governo que a conduz. E não há como restaurar a confiança na política econômica sem a obtenção de um sólido equilíbrio nas contas públicas. Na reforma do Estado e no ajuste do setor público, o papel dos governos estaduais e das prefeituras não pode ser menosprezado.
A prática deletéria de gastar à custa do endividamento e passar adiante os problemas financeiros assume, na conjuntura atual, ainda maior gravidade. As elevadíssimas taxas de juros dão a essa política -já corriqueiramente ruim- um potencial efetivamente explosivo.
A situação pré-falimentar em que as administrações Quércia e Fleury deixaram o Estado de São Paulo permite questionar seriamente os gastos que seus governos apresentam como grandes realizações. Mais premente do que avaliar os méritos e deméritos de governos passados, entretanto, é impedir que essas situações se repitam. E, lamentavelmente, elas se repetem.
O rápido endividamento da Prefeitura de São Paulo na gestão de Paulo Maluf é um típico mau exemplo. A dívida mobiliária da prefeitura cresceu de US$ 658 milhões em janeiro de 1993 para US$ 1,646 bilhão em setembro do ano passado, segundo dados do Banco Central. Ainda que não seja possível antever o balanço final, é inegável que o início da gestão praticamente ignorou o preceito da austeridade.
A cidade de São Paulo tem o terceiro maior Orçamento do país e por isso seu caso é elucidativo, mas não é o único. A tolerância para com os gastos excessivos de outras esferas de governo escorou-se na idéia de que o controle da inflação e a coerência das políticas macroeconômicas é tarefa apenas do governo federal. Ledo engano.
Os déficits nos Estados e grandes municípios corroem a credibilidade das políticas de ajuste. O esforço de estabilização não pode prescindir da ação responsável dos mandatários de governos e prefeituras.

Próximo Texto: As lições do poder
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.