São Paulo, quarta-feira, 5 de abril de 1995
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Luther Allison traz seu blues alegre a SP

SYLVIA COLOMBO
DA REDAÇÃO

Luther Allison, 55, costuma carregar suas canções de insatisfação e tristeza para fazer um blues alegre, por mais que isso soe contraditório. Allison está entre os músicos participantes do festival Nescafé & Blues, que acontece de 24 a 27 de maio no Palace (leia sobre as outras atrações ao lado).
"O blues, apesar de se chamar 'blues' (triste) é alegre, porque fala de sentimentos entre as pessoas", disse o cantor e guitarrista, em entrevista exclusiva à Folha, por telefone, de Memphis, onde está ensaiando.
O bluesman americano, que vive em Paris, se sente injustiçado depois de 35 anos de carreira dedicados ao blues.
"Tenho a mesma origem e linha musical que B.B. King, por exemplo, mas é muito difícil lidar com o cenário pop." Segundo ele, é muito mais fácil encontrar público para o blues na Europa do que nos EUA, onde o ritmo nasceu.
Ele lembra saudoso como as coisas eram diferentes no começo de sua carreira. "Em Chicago, nos anos 60, só se ouvia música negra, nas ruas e nos pequenos clubes. Hoje, não se encontra lugar para tocar se não se tem um nome popular", diz.
Allison nasceu no Arkansas e ainda adolescente mudou-se para Chicago, onde aprendeu a tocar guitarra.
Uma de suas maiores diversões na infância era fazer barulho com objetos como vassouras, arames e garrafas, que foram seus primeiros instrumentos. "Podia ser qualquer outro instrumento, a verdade é que a música já estava em mim."
Entre suas pricipais influências no começo da carreira, estão Muddy Waters e Howlin' Wolf. "Toquei no princípio com Magic Sam e Elmore James, eles também me influenciaram bastante."
Mesmo não conhecendo o Brasil, ele tem uma visão otimista quanto à receptividade musical do país. "Sei que é um povo bastante eclético."
Apesar de pouco conhecer a música brasileira, se diz admirado com a capacidade de improvisação dos músicos do país. "Em qualquer clube ou bar que os encontre, estão sempre prontos para fazer uma 'jam', e esse também é o espírito do blues."
Para sua apresentação no Nescafé & Blues, Allison escolheu as músicas do seu novo CD "Soul Fixin' Man", lançado nos EUA pelo selo Alligator.
Allison acaba de ser indicado para algumas categorias do prêmio da "The Blues Foundation", de Memphis, conhecido também como o Oscar do blues. Entre elas estão a de melhor guitarrista de blues, e melhor disco contemporâneo de blues.
"Não sei quantos prêmios vou levar, mas estas indicações são um mínimo de reconhecimento que eu podia receber a esta altura da vida."
Apesar da mágoa com a imprensa e com o mundo musical, Allison promete um show alegre. Seu blues caracteriza-se pela potência da performance ao vivo e pelo ritmo dançante de muitas faixas, lembrando o estilo de B.B. King.
"Defino meu estilo como o blues mais puro, de raiz, forte e energético como o próprio rock and roll, que deve a sua existência ao blues."
Para ele, que adora rock e tem Jimi Hendrix como um de seus ídolos, a matéria-prima do ritmo é a música negra. "Depois cada um acrescenta o que tem, Elvis Presley pôs talento e sensualidade, Joplin pôs revolta, e assim acontece com todos os personagens da história do rock."

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