São Paulo, quarta-feira, 5 de abril de 1995
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Internet vira parque de diversões sexuais

MARINA MORAES
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE NOVA YORK

Plugue na Internet. Entre no grupo alt.personals.spanking.punishment. Bem-vindo ao sadomasoquismo on line. Aqui você vai poder trocar mensagens ou fotos com quem tem hábitos sexuais um pouco diferentes da média. A algema deve ficar presa no pé ou na cabeceira da cama? O chicote de couro de canguru é mais agradável que os outros? Divirta-se com dicas de quem é do ramo.
Nem aí para o prestígio comercial da Internet e o blablablá sobre as supervias da informação, milhares de usuários se ligam diariamente na rede atrás de satisfazer, vamos dizer assim, seus instintos biológicos, por mais doentios e desprezíveis que sejam.
Pode haver algo mais sem graça do que sexo no ciberespaço, voyeurismo eletrônico que nunca chega lá? Resposta padrão dos viciados: pelo menos aqui ninguém pega AIDS e cada um pode imaginar-se em situações que nunca encararia diante da mulher ou do marido. Ponto para os platônicos.
Gerard van der Leun, um jornalista americano que há mais de dez anos acompanha a evolução do chamado cibersexo, escreveu um dia desses que não há nada de novo no gênero. São as mesmas fantasias que o homem sempre teve, agora divulgadas pelo micro.
É como se fosse uma conversa de radioamador, em que as palavras escritas substituem a fala, comparou der Leun. Se o papo de alguém interessa, você pode ir adiante, trocar telefone e até marcar encontro pessoalmente. Foi assim que muito usuário da Internet acabou encontrando casamento.
Outros frequentam os fóruns atrás de fantasia pura. Começam por descrever o próprio corpo e os atributos físicos. Se encontram alguém interessado, a troca de mensagens pode esquentar. "Gostaria agora de ser o seu teclado -e que suas mãos quentes massageassem o meu rosto, os meus seios, minha barriga...", escreveu uma usuária tentando fisgar um infogato.
Há muitos riscos nessa história. Nunca se sabe quando ela é ele, ou vice-versa. Aliás, já há gente querendo que o governo regulamente a Internet por causa do material explícito que aparece na rede. Um dos argumentos é que, escondidos atrás de pseudônimos, criminosos sexuais podem usar a rede para atrair suas vítimas. É um exagero.
O verdadeiro risco é para a conta bancária dos usuários. Frequentar os fóruns de cibersexo, que incluem da praia dos fetichistas a clubes de strip-tease, pode custar caro. Alguns serviços chegam a custar US$ 10 por hora de frequência e tem gente que passa as madrugadas ligado, atrás de uma conversa explícita ou de ver uma foto de mulher pelada.
Aliás, que Playboy que nada. Um levantamento recente contabilizou mais de 10 mil fotos pornográficas nos arquivos das várias redes on line. Pagando uma taxa, qualquer um pode acionar as coleções e trazer as imagens que quiser para o disco de seu computador.
É uma área tão rentável que mesmo os serviços ditos "família", como o CompuServe e a America Online, vão permitir que seus usuários tenham acesso aos arquivos e fóruns de sexo desde que assinantes assumam completa responsabilidade legal por isso.
E pelo jeito o número de tarados na Internet é tão grande que justifica o recente surgimento dos classificados sexuais onde os usuários oferecem ou requisitam todo tipo de serviço na área.
Lido outro dia no boletim do procura-se: "Faxineira que trabalhe de topless. Sem limite de idade, mas em boa forma física."

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