São Paulo, quinta-feira, 6 de abril de 1995
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Juniores viajam sob "linha dura"

MÁRIO MAGALHÃES
ENVIADO ESPECIAL A TERESÓPOLIS

Os jogadores da seleção brasileira de juniores viajam hoje para disputar o Campeonato Mundial da categoria sob a mais rígida disciplina aplicada na década de 90 a uma seleção do país.
O técnico Jairo Leal proibiu os atletas de usar brincos, barba e cabelo compridos.
"O jogador está iniciando a carreira e se não se cuidar vai ser chamado de homossexual pelos torcedores", afirmou Leal à Folha.
"Se um garoto desse anda de brinco, o torcedor pega no pé, o menospreza, tira a tranquilidade e o chama de bicha."
Leal tem 42 anos. Os jogadores da delegação, entre 17 e 19. "Eles precisam andar asseados porque vão representar quase 150 milhões de brasileiros", disse Leal.
A equipe embarca hoje à noite no Rio. Amanhã pernoita na Holanda e no sábado chega ao Qatar, país do Oriente Médio onde será disputado o Mundial.
O Brasil defende o título conquistado em 1993 na Austrália. O torneio será entre os dias 13 e 18.
A estréia brasileira será no dia 14, contra a Síria. Depois, na primeira fase, a seleção enfrentará Rússia e Qatar.
A seleção conta com jogadores titulares dos times adultos de clubes importantes. Entre eles, o meia defensivo Zé Elias (Corinthians) e os atacantes Caio (São Paulo) e Reinaldo (Atlético-MG).
Reinaldo foi a primeira vítima da "linha dura" comportamental imposta por Jairo Leal. O treinador obrigou-o a tirar o brinco que ostentava na orelha esquerda.
"Era só uma pedrinha", conta Reinaldo. "Eu não usava durante as partidas, só para passear."
Jogadores como Zé Elias vão ter de entrar em campo com a barba feita e cabelos curtos.
Nem ele nem outros jogadores reclamam publicamente, com medo de punição.
Leal transmite oralmente suas exigências. "Minha função é educativa porque esses atletas ainda estão em formação", disse.
"Aqui é mais fácil enquadrá-los que no clube. Na seleção, eles sabem que haverá sempre um substituto. Mas o clube aceita muitas coisas porque o passe do atleta é seu patrimônio."
Leal acredita que uma de suas tarefas mais importantes é impedir o "deslumbramento" de jogadores com o sucesso precoce.
"O Luizão (atacante do Guarani) anda com um celular e um carro Mitsubishi que custa US$ 40 mil. Nem eu tenho um assim."
Jairo Leal era auxiliar técnico no Mundial de 1993. O treinador era seu irmão, Júlio César Leal, afastado posteriormente porque não chegou a um acordo salarial com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF).
Jairo Leal começou a carreira como preparador físico no Olaria em 1972. Lá conheceu o então técnico Américo Faria, hoje diretor de futebol da CBF, que o levou às seleções brasileiras de jovens.

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