São Paulo, sexta-feira, 7 de abril de 1995
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Dívida deixa Canhedo 10 h na prisão

MARCELO GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL

O empresário Wagner Canhedo, 59, sócio majoritário da Vasp ficou preso dez horas ontem. Ele é acusado de não apresentar à Justiça um avião que havia sido dado como garantia para o pagamento de uma dívida da R$ 16 milhões com o Banespa (Banco do Estado de São Paulo S/A). Ele foi preso às 10h30 e libertado às 20h25 após o Tribunal de Justiça ter concedido liminar em pedido de habeas corpus.
"Isso é um absurdo, uma violência desnecessária", disse o empresário. Ele afirmou que estava renegociando os juros da dívida da Vasp com o Banespa.
Anteontem, o juiz Carlos Henrique Abrão, da 4ª Vara Cível do Fórum de Jabaquara (zona sul de São Paulo), havia decretado a prisão do empresário por seis meses. Ele só poderia deixar a prisão caso apresentasse a aeronave ou qualquer outra garantia para a dívida.
Na mesma decisão, o juiz também pediu, em ofício, que o procurador-geral da República, Aristides Junqueira, peça a quebra dos sigilos bancário e fiscal do ex-governador de São Paulo Luiz Antônio Fleury Filho.
Ele também pede que seja analisado a possibilidade de se abrir uma ação para sequestrar os bens do ex-governador. O motivo é que, segundo o juiz, podem ter ocorrido "evasão de divisas" do país e "gestão temerária" nas operações financeiras entre a Vasp e o banco.
O nome de Fleury, porém, não é citado no documento. A assessoria do Tribunal de Justiça informou que se trata do ex-governador quando o juiz se refere, em seu despacho, ao "chefe do Executivo estadual à época dos fatos".
A Vasp está sendo cobrada judicialmente em cinco ações movidas pelo Banespa. O banco não recebeu o pagamento de empréstimos tomados pela Vasp.
O juiz Abrão está analisando três desses processos, cujas dívidas somadas chegam a RS 102 milhões. Esses empréstimos foram tomados pela Vasp em 92 junto ao banco Noroeste.
O Banespa, com autorização do então governador Fleury, foi o avalista dessas operações e pagou a dívida com o Noroeste em 93, quando entrou com a ação de cobrança contra a Vasp. A dívida total da empresa com o Banespa soma R$ 196 milhões (leia texto ao lado).
O prazo para o pagamento da dívida que levou Canhedo à prisão acabou em janeiro passado. Como ela não foi paga, a Justiça havia requisitado um Boeing 737-200 para entregá-lo ao Banespa como garantia ao pagamento da dívida.
Prisão
Canhedo foi preso por quatro delegados da Polícia Civil ao desembarcar às 10h30 na pista do aeroporto de Congonhas (zona sul). Ele veio de Brasília para o escritório da empresa e foi pego quando entrava em uma perua da Vasp.
Canhedo deixou a perua e entrou em uma Veraneio da Polícia Civil. Sentou no banco traseiro entre dois policiais e não foi algemado. "Isso só é feito com presos perigosos", disse o delegado Marco Antônio Ribeiro de Campos, 50, responsável pela prisão.
Os policiais levaram Canhedo para o Decap (Departamento de Polícia Judiciária da Capital). Lá, conversou com seus seis advogados e deu entrevista.
Por volta das 15h, a polícia o levou para o 91º DP, no Ceasa (zona oeste). Essa delegacia é reservada para presos com diploma universitário -Canhedo é formado em direito.
Na delegacia, ele dividiu uma cela com outros quatro presos. No total, 17 pessoas estavam detidas no 91º DP.
O empresário foi solto às 20h25, quando chegou no 91º DP a liminar. O motivo da sua soltura foi a apresentação do Boeing 737-200, prefixo PP-SMT, exigida pela Justiça. A aeronave vai ser vistoriada por peritos judiciais.
Ontem, a assessoria do Banespa informou que o Boeing 737-200 havia sido transferido de São Paulo para a rota entre Salvador (BA) e Teresina (PI). A aeronave pousou às 13h30 em Teresina, onde um advogado do banco pediu sua apreensão.
O Boeing 737-200 saiu de Teresina às 17h e deveria chegar em São Paulo na noite de ontem. Ele ficará sob a guarda do Banespa por 30 dias sob responsabilidade do interventor do banco, Altino Machado. Durante esse período, a aeronave deverá ficar guardada no aeroporto de Viaracopos, em Campinas (SP).

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