São Paulo, sexta-feira, 7 de abril de 1995
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Caetano e Sakamoto hipnotizam platéia na abertura do Heineken

CARLOS CALADO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O programa anunciava uma Noite do Arranjador. Mas a estréia do festival Heineken Concerts -anteontem, no Palace, em São Paulo- também poderia ter sido batizada Noite dos Compositores.
Jaques Morelenbaum, anfitrião da noite, preparou um belo roteiro musical. Abriu o show com uma espécie de viagem sonora pelo Brasil, tendo como ponto de partida seu samba "Ilha Grande".
Daí seguiu rumo a "Zanzibar" (de Edu Lobo), com deliciosas escalas em "Eu Vim da Bahia" (Gilberto Gil), "Salvador" (Egberto Gismonti), "Samba do Avião" (Tom Jobim) e "Trilhos Urbanos" (Caetano Veloso).
A maestria do arranjador carioca extrapola o mero manuseio de melodias e harmonias. Ao privilegiar instrumentos acústicos de cordas e muita percussão, Morelenbaum sintetiza sonoridades originais, totalmente desprovidas de clichês.
Tributo a Jobim
Protagonista de um tributo a Tom Jobim, Paula Morelenbaum revisitou, com sensibilidade, canções como "Bonita", "Corcovado" e "O Boto". Mas seu melhor momento foi mesmo em "Serenata do Adeus" (de Vinicius de Moraes), um precioso arranjo de Jaques para voz e celo.
A excitação da platéia cresceu após a entrada de Ryuichi Sakamoto. O pianista japonês se apresentou em trio com Jaques e Everton Nelson, um talentoso violinista britânico com pinta de "reggaeman" jamaicano.
Sakamoto abriu e fechou seu show com os conhecidos temas que compôs para os filmes "Furyo - Em Nome da Honra" e "O Último Imperador". Em composições que misturam música oriental, pop e sons contemporâneos, hipnotizou o público com seus gestos dramáticos ao piano.
Visivelmente emocionado pela estréia em palcos brasileiros, o músico japonês até arriscou algumas palavras em português. E ainda surpreendeu o Palace, ao lado de Paula Morelenbaum, com um emocionante dueto vocal.
Caetano épico
Recebido com frisson, Caetano também fez seu tributo a Jobim. Contendo a emoção, cantou "Insensatez" acompanhado pelo piano de Sakamoto, que soube captar muito bem o estilo econômico do compositor.
A homenagem prosseguiu com a clássica "Eu Sei que Vou te Amar" (de Tom e Vinicius), que Caetano revisitou com o auxílio de seu violão e do celo de Jaques.
Parte do repertório de Caetano também foi escolhido para comemorar seus encontros musicais com Morelenbaum e Sakamoto.
Juntos, os três lembraram "Lindeza", canção cujo arranjo original acabou aproximando o carioca de Sakamoto. "Itapuã" e o bolero "Pecado" (Bahr e Francini) remetem às parcerias de Caetano e Morelenbaum, nos últimos anos.
Para não perder o costume, Caetano reservou para o final a surpresa: sua trilogia épica, formada por "O Estrangeiro" (com uma levada reggae, puxada pelo baixo de Arthur Maia), "Fora da Ordem" e "Haiti".
A noite de estréia promete um Heineken Concerts poderoso.

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