São Paulo, sábado, 8 de abril de 1995
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Mudança é desastrosa para o governo

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O fim da TR (Taxa Referencial) na correção do crédito agrícola deixou o governo em uma sinuca.
Caso não consiga revogar ou alterar a nova regra de indexação aprovada pelo Congresso -com base nos preços mínimos-, será muito difícil contornar o problema sem comprometer seriamente o Plano Real.
O próprio governo avalia internamente que não dá para conviver com a nova regra. Considera-se que o plano nunca esteve tão ameaçado.
A única porta de saída segura é a reversão ou uma mudança do que foi decidido no Congresso, o que pressupõe ou encontrar um artifício jurídico ou obter um acordo político.
A ser mantida a indexação do crédito agrícola aos preços mínimos do setor, qualquer medida para se conviver com ela traria consequências desastrosas para a administração do plano.
Se a mudança for retroativa, haverá um problema a mais: o Tesouro provavelmente terá que arcar com a diferença entre a correção dos preços mínimos e a TR aplicada sobre os financiamentos desde o Plano Real.
Os preços mínimos não sofreram um reajuste sequer desde o Plano Real. A TR acumulada do dia 1. de julho (quando o real entrou em vigor) ao último dia 6 de abril chega a 27,6%.
Neste caso, o rombo a ser coberto seria de no mínimo R$ 2,4 bilhões, segundo cálculos do governo.
A sinuca que o Congresso impôs ao governo é como conviver com o "descasamento" da correção (TR versus preços mínimos) daqui para frente.
Perpetuar este mecanismo significaria o descontrole total das contas públicas. O Tesouro não tem e não terá, a médio prazo, condições de subsidiar todo o crédito agrícola.
Já estava difícil fechar as contas antes da decisão do Congresso. O Orçamento precisa de um corte de R$ 9,5 bilhões para não haver déficit. Não há como pensar em aumentar despesas.
Cortar definitivamente o crédito rural para evitar novos rombos também é desastroso para o país.
Geraria, no futuro, problemas graves na oferta de produtos agrícolas. Em outras palavras, isto traria inflação ou aumento enorme das importações de alimentos para suprir a falta de produtos.
Medidas para casar a correção dos preços mínimos com a correção dos empréstimo tampouco seriam menos arriscadas para o Plano Real.
Como não dá para tirar a correção da TR das poupanças, a alternativa seria manter a TR sobre a poupança e passar a reajustar os preços mínimos também pela TR.

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