São Paulo, sábado, 8 de abril de 1995
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Semana Santa

LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

Reúnem-se, nestes dias, as comunidades para celebrar o amor de Jesus Cristo, que deu a vida para nos salvar.
Aproximamo-nos do tríduo em que comemoramos a última ceia, a paixão e morte de Cristo e a sua ressurreição gloriosa. Os dias da Quaresma ajudaram-nos a procurar o perdão e a correção de nossas faltas, num anseio de vida nova, na graça de Deus e na comunhão com os irmãos.
A Campanha da Fraternidade-95, além do convite à conversão pessoal, propõe à comunidade um tema urgente em vista de transformar a sociedade, a fim de que responda ao desígnio salvífico de Deus. Neste ano confrontamo-nos com duas realidades: por um lado, a situação dramática dos excluídos e rejeitados pela sociedade e, por outro, o apelo que Cristo nos faz, a exemplo do bom samaritano, para vivermos o amor misericordioso para com todos, especialmente os excluídos.
A lição desta campanha é não somente a de percebermos quantos sofrem a exclusão, mas em que sentido cada um de nós também discrimina e rejeita os demais. A intenção da campanha é, portanto, a mudança de comportamento, imitando a misericórdia do bom samaritano e aproximando-nos todos como irmãos.
Jesus Cristo nos ensina que o preceito do amor fraterno nos leva a ter compaixão dos que sofrem e tratá-los com afeto, procurando atender às suas necessidades espirituais e materiais. Há, no entanto, uma lição mais profunda à luz do cap. 25 do Evangelho de S. Mateus.
O preceito do amor faz que reconheçamos na pessoa de cada irmão aquele com quem o próprio Cristo se identifica. Assim, tudo que fizermos a um desses irmãos, estaremos fazendo a Jesus Cristo (Mt 25, 40). Um médico, no pronto-socorro, contava como se dedicou intensamente a salvar um jovem acidentado, não só em virtude de seu zelo natural, mas por ter percebido que se tratava do filho de seu melhor amigo.
Na vivência do amor cristão, acontece muito mais. Somos chamados a fazer tudo que estiver a nosso alcance em bem de cada pessoa, percebendo a dignidade profunda de quem é assim amado por Cristo. No rosto do excluído aparecem os traços do próprio Jesus Cristo. "Eras tu, Senhor?!"
Nesta Semana Santa precisamos completar o caminho percorrido no tempo da Quaresma e, com a graça divina, crescer na vivência da solidariedade para com os excluídos da sociedade.
Além das mudanças estruturais que garantam condições de vida digna para todos, e das ações concretas de cada cristão em bem dos excluídos, há situações que exigem esforço urgente das comunidades. Lembro quatro entre as mais urgentes: 1) intensificar a atenção às crianças abandonadas e adolescentes, vítimas da fome e da violência; 2) empenhar-se para acabar com o crime da prostituição infantil; 3) cooperar junto às autoridades locais para a melhoria da condição dos presídios e delegacias, assegurando tratamento humanitário aos detentos e auxílio às suas famílias; 4) organizar, nas paróquias, grupos para atendimento aos mais necessitados, garantindo alimentação, serviço de saúde e encaminhamento ao trabalho.
Nesta Semana Santa, muitas vezes, estaremos reunidos na Igreja para os atos litúrgicos, numa atitude de fé e gratidão a Jesus Cristo pelo dom total de sua vida por nosso amor. Ofereçamos a ele o compromisso de solidariedade fraterna para que não haja mais excluídos entre nós.
D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.

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