São Paulo, domingo, 9 de abril de 1995
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Prefeitos do PT descobrem a privatização

DA AGÊNCIA FOLHA E DA FOLHA NORDESTE; DA REDAÇÃO

Petistas enfrentam oposição de PSDB, PFL e PL para vender empresas que pertencem aos municípios
Prefeituras petistas estão aderindo a uma prática administrativa que membros do partido definem como neoliberal -em referência a um modelo que prevê a saída do Estado de atividades que podem ser exercidas por empresários.
Cidades como Quixadá (CE), Londrina (PR), São Vicente (SP), Ribeirão Preto (SP) e Santos (SP) resolveram "flexibilizar" monopólios, abrir empresas públicas à participação do empresariado e vender estatais.
Sem tirar nem pôr, é o que o presidente Fernando Henrique Cardoso pretende fazer com o país, razão por que é alvo de pedras e ovos de petistas e de seu braço sindical, a CUT (Central Única dos Trabalhadores).
Os responsáveis por tais transgressões liberalizantes não são figuras distantes do núcleo central do partido. Um deles, David Capistrano (Santos) é até membro do temível Diretório Nacional.
Dois outros, Luis Eduardo Cheida (Londrina) e Ilário Marques (Quixadá), já foram dirigentes nacionais do PT.
A privatização, que significa a venda de empresas que pertencem ao Estado, não é exclusividade de uma única tendência do petismo.
Em Londrina, Cheida tenta convencer a Câmara Municipal a privatizar o Sercomtel (Serviço de Comunicações Telefônicas de Londrina), uma lucrativa empresa de telefonia, tida como ilha de eficiência pela Telebrás.
Na prática, a proposta é transformar a empresa, hoje uma autarquia municipal (pertence ao município, mas com independência administrativa) em sociedade anônima, isto é, uma empresa com vários novos donos, que comprariam ações (papéis que representam parcelas da empresa) e que teriam, portanto, direito de opinar sobre seu destino e de usufruir de parte de seus lucros.
Cheida afirma que pretende arrecadar "no mínimo, US$ 120 milhões com a venda de 40% das ações do Sercomtel".
A reação à iniciativa do prefeito é uma prova da confusão dos partidos brasileiros: o PSDB de Londrina -do partido de FHC- não aceita o projeto.
Fato semelhante ocorre no município cearense de Quixadá, onde a privatização petista consiste na venda do principal hotel da cidade e de mais 300 imóveis da prefeitura -incluindo os três mercados municipais.
"Enquanto o PT está na vanguarda (liderança) da privatização, os neoliberais do PFL e do PL se posicionam contra", afirma o prefeito Marques. Em tempo: PFL significa "Partido da Frente Liberal", e PL, "Partido Liberal". No plano nacional, ambos são aliados de FHC e defendem que se faça com o Brasil tudo o que não querem que o PT faça com Quixadá.
A parte mais polêmica do projeto de Marques é a privatização dos mercados, com a venda dos boxes e lojas. O líder do PFL na Câmara Municipal, Morvan Lobo, do PFL (partido do vice Marco Maciel), diz que a privatização levará os pequenos comerciantes à falência.
Em Ribeirão Preto, o prefeito Palocci quer desenvolver projetos com a iniciativa privada em setores considerados de exclusiva competência do município (o chamado monopólio), como telecomunicações e água e esgoto.
A intenção do prefeito petista é vender 20% das ações da Ceterp (Centrais Telefônicas de Ribeirão Preto) à iniciativa privada, arrecadando cerca de R$ 100 milhões.
Os ventos liberalizantes também sopram em Santos, onde a gestão de Capistrano reverte a estatização do transporte coletivo, implantada na administração anterior da também petista Telma de Souza.
Há três meses, a prefeitura abriu licitação para privatizar 15 das 46 linhas de ônibus municipais.
Também em parceria com a iniciativa privada, a prefeitura santista reurbaniza a orla marítima. A empresa CGN-Galli construiu 38 quiosques e sete sanitários e terá o direito de, nos próximos cinco anos, explorar a publicidade no local e receber uma percentagem no faturamento do comércio na praia.
O resultado da parceria em Santos motivou a prefeitura da vizinha São Vicente a procurar empresas dispostas a urbanizar a praia do Itararé pelo mesmo sistema.

Colaborou a Redação

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