São Paulo, domingo, 9 de abril de 1995
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Fiesp deve reeleger Moreira Ferreira sem concorrentes

FREDERICO VASCONCELOS
EDITOR DO PAINEL S/A

Carlos Eduardo Moreira Ferreira, 56, deverá ser reconduzido à presidência da Fiesp/Ciesp (Federação e Centro das Indústrias do Estado de São Paulo), em agosto.
Nas próximas semanas serão publicados os editais para registro de chapas. Deve haver apenas uma. Ele esvaziou a oposição, minoritária e de perfil moderno, mas os conservadores tiveram que ceder espaço.
Reservadamente, alguns amigos admitem que ele será reeleito por falta de opções. Estão desapontados com seu desempenho, mas não dizem isso abertamente.
Sem o carisma de Mario Amato, sem a capacidade de articulação de Luis Eulalio Bueno Vidigal Filho, Moreira Ferreira impôs seu estilo. Pesadão e concentrador, mas aberto ao diálogo.
Ele provou, pelo menos, que atualmente não é preciso ser quatrocentão, ter sobrenome italiano e nem mesmo ser industrial para dirigir a tradicional Fiesp.
"Ser dono do capital nunca foi pré-requisito estatutário", diz. Advogado e presidente de empresas privadas concessionárias de energia, ele diz que a condição de fornecedor a todos os segmentos industriais lhe dá independência.
Uma tentativa recente de "avaliar" sua gestão (possível balão-de-ensaio para uma virtual candidatura alternativa) reuniu apenas quatro gatos-pingados no "lobby" de um hotel.
Há dez anos, Moreira Ferreira "advertia" -dedo em riste- que ninguém governaria o país sem o apoio da Fiesp. O país mudou, a Fiesp já não assusta governos eleitos democraticamente nem "frita" ministros, como acontecia antes.
Moreira Ferreira também mudou. E demonstrou isso ao introduzir avanços em sua primeira gestão, vencendo a resistência dos grupos mais renitentes. O maior apoio a seu nome vem do interior, onde soube ocupar espaços e tomar as bandeiras da oposição.
A importância da próxima eleição é que ela já indicará -na composição da chapa- os primeiros efeitos da reforma dos estatutos da Fiesp e do Ciesp, que permitirão ampliar a representatividade da indústria nas duas entidades.
Haverá a renovação de um terço da diretoria. Foram extintos os cargos de terceiro e quarto vice-presidentes e foi proibida a reeleição do tesoureiro e do primeiro secretário. Eliminou-se também a figura do presidente emérito.
Mas a modernidade ainda não é uma marca registrada na pirâmide da Fiesp. Nem a entidade conseguiu aumentar seu cacife com a abertura democrática -apesar do diálogo com os trabalhadores e da defesa de posições de interesse geral no Congresso Nacional.
A indústria automobilística, por exemplo, cede ao Palácio do Planalto automóveis em comodato (empréstimo gratuito) e negocia diretamente com Brasília, sem passar pela avenida Paulista.
A indústria da construção civil -uma das maiores empregadoras- não se sente prestigiada pela Fiesp (que, por sinal, não considera em seus levantamentos os índices de ocupação nesse setor).
As empresas de capital estrangeiro, por sua vez, frequentam a Fiesp, mas atuam de forma mais eficiente nas câmaras de comércio e indústria de cada país.
Grandes industriais abandonaram o "feijão-com-arroz" das reuniões semanais da Fiesp e foram discutir questões estruturais no Iedi - Instituto de Estudos do Desenvolvimento Industrial.
Moreira Ferreira granjeou insatisfação ao acolher na Fiesp o Simpi, ativo e controvertido sindicato da micro e pequena indústria.
Perdeu pontos ao disputar a presidência do Sebrae (órgão que presta assistência às pequenas empresas), envolvendo-se em desgastante polêmica com o presidente da Federação do Comércio de São Paulo, Abram Szajman.
A administração Moreira Ferreira, contudo, plantou a semente de algumas mudanças que talvez só sejam percebidas em 1998 -no fim de seu último mandato.

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