São Paulo, domingo, 9 de abril de 1995
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Atores ainda ensaiam a profissionalização

LUÍS PEREZ
DA REPORTAGEM LOCAL

A carreira de ator ainda precisa de profissionalização. Apesar disso, a atividade, que no momento oferece salários baixos, promete um mercado com oportunidades para os próximos três anos.
"A tendência é um aumento no número de oportunidades, mas ainda é pouco", afirma Ligia de Paula Souza, 49, presidente do Sated (Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos e Diversões no Estado de São Paulo).
Segundo ela, faltam agenciadores para trabalhar a figura do ator e profissionalizar o setor. A situação ainda é flutuante e poucos são os que conseguem viver da profissão.
A situação é também pior porque não existe um piso salarial unificado. Eles variam de acordo com o campo de atuação.
O ator de teatro, por exemplo, tem estabelecido um piso de R$ 630,24. Na TV, vigora o regime de livre negociação.
Um figurante de TV ganha no mínimo R$ 175 por mês. "O salário médio na TV não deve chegar a R$ 500", diz. Segundo ela, só há uma dúzia de atores de TV ganhando "relativamente bem".
"A profissão do ator ainda tem muito glamour em torno de sua atividade. Há uma expectativa de sucesso, beleza e juventude que não condiz com a realidade."
Segundo Ligia, 95% dos cerca de 15 mil atores em atividade são desconhecidos do grande público. "Não temos condições de fazer uma carreira", afirma Ligia.
A vida tumultuada e irregular de quem abraça a atividade produz números assustadores. Uma recente pesquisa do sindicato revela que a expectativa de vida dos artistas é de 36 anos, em média.
"Muita gente tem morrido, principalmente de doenças ligadas ao afeto, como Aids, câncer e problemas cardíacos", diz.
O campo de trabalho não se restringe à TV, ao cinema ou teatro. Exposições, conferências, seminários ou mesmo dar aulas são boas oportunidades de trabalho.
Uma ponte para obter esse tipo de trabalho é, sem dúvida, a TV. "Todo ator sonha em fazer uma novela. Para ter emprego é preciso fazer sucesso. E aí é que as pessoas investem em novela."
Mas o sindicato também indica um caminho: a área de turismo. "Várias casas de espetáculos estão sendo criadas. Vem aí uma nova onda e temos que estar preparados para participar."
Ligia diz que os cursos técnicos são, tradicionalmente, os que formam mais atores em atividade.
Um dos mais tradicionais é o da EAD (Escola de Arte Dramática), da USP, fundado em 1948 para formar exclusivamente atores.
Concorreram no vestibular de novembro cerca de 600 candidatos para as 30 vagas oferecidas.
A USP também tem um curso universitário de artes cênicas na ECA (Escola de Comunicações e Artes). Para Silvana Garcia, 43, diretora da EAD, é difícil fazer previsões sobre a profissão.
"Vivemos um momento de boom de produções e afluência de público." Para ela, o mercado está passando pela "era do diretor".
A dificuldade em fazer previsões está no momento de redefinição da política cultural.
"É uma questão polêmica. O mercado tem a sua dinâmica, mas o Estado ainda tem um papel importante na captação de recursos."
(LPz)

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