São Paulo, domingo, 9 de abril de 1995 |
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Um contraponto da era colonial
ANDRÉ DA SILVA GOMES Contraponto é a invenção da Harmonia competente a uma, duas ou mais partes. Composição é a invenção das cantorias competentes a cada uma das partes. Por exemplo. Eu suscito na minha fantasia uma cantoria, eis aqui a Composição; porém careço modificá-la com os preceitos, eis aqui o Contraponto; e por consequência se mostra que o Contraponto é a invenção dos números harmônicos competentes a todas as partes e a Composição é a disposição e realce da cantoria competente a cada uma das partes.(sobre a distinção entre contraponto e composição) Os períodos da Música são tanto mais deleitáveis quanto forem mais ornados de espécies falsas e dissonantes; e isto pela modificação primorosa com que a Arte as introduz e põe em prática, dissipando-lhes a natural aspereza e fazendo-as assim produzir efeitos muito mais harmoniosos e agradáveis do que os que resultariam à música das espécies consonantes se ela só destas espécies fosse revestida e adornada. (sobre a dissonância) Tendo estabelecido os Sábios a variedade de espécies com que se propuseram a organizar o corpo da Composição, admitidas e ordenadas as agradáveis consonâncias, e aspirando a tornar aprazível o som das mesmas (espécies) dissonantes, fazendo que elas fossem índices sensíveis da bela Harmonia, (e) querendo, parece que de propósito, chocar primeiro o ouvido com a dissonância para que depois ficasse mais susceptível e recebesse com maior recreio a Consonância que se seguisse; nestes termos eles estabeleceram experimentados preceitos, entre os quais um deles muito essencial e capaz de modificar a dura aspereza da dissonância, foi o uso e modo de unir estas espécies com Ligaduras, chegando por esta descoberta a introduzir felizmente, e com estimável apreço as (espécies) falsas e dissonantes nas Composições. (sobre as Ligaduras) Impuseram os Antigos Sábios a esta qualidade de Composição o nome de Fuga ou Passo, deduzindo o primeiro nome do verbo ou substantivo latino Fugio e Fuga, adequando estas palavras ao próprio Movimento e Artifício desta Composição, na qual se observa que a Voz que vai adiante como fugindo nunca pode ser alcançada a dizer o mesmo que ela diz pela Voz que lhe vai no seguimento. Em quanto ao segundo termo denominado Passo, judiciosamente é também imposto à mesma Composição porque nele se dá a entender a sujeição com que ficam todas as Vozes de entrarem e se encaminharem a imitar umas às outras, e por este regular procedimento lhe impuseram o nome de Passo, que é o mesmo que um certo caminho ou uma certa passagem por onde deve passar cada uma das Vozes para imitar e arremedar a sua companheira nas entradas das mencionadas Fugas. (...) As Fugas, na acepção rigorosa desta palavra entre os Antigos Mestres, consistiam em fazer repetir inteiramente e sem a menor diminuição o Motivo estabelecido, enquanto havia que repetir e imitar; porém os Modernos denominam "Canon" a este Artifício Harmônico; e justamente, é (por ser) um Tema ou Motivo prescrito, que se não pode nem ampliar nem diminuir: e eis aqui a força enumerativa do termo Canon. Chamavam, também os Antigos Mestres, Passo quando, estabelecido um Motivo, uma Voz imita a outra Voz, quando não no todo, na maior parte; e a este Artifício é que promiscuamente os Modernos denominam Fuga ou Passo; e com efeito, nem uma Voz alcança a outra no seu Motivo, e eis aqui a Fuga; e infalivelmente a há de imitar naquele Motivo, e eis aqui o caminho ou Passo que tem a entrar para seguir a sua companheira. (definição de Fuga ou Passo) Texto Anterior: As fugas de um mestre Próximo Texto: O assassinato de Madame Bovary Índice |
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