São Paulo, domingo, 9 de abril de 1995
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Os gigantes sul-americanos

PAULO FERNANDO SILVESTRE JR.
DA REPORTAGEM LOCAL

Pesquisadores do Museu Argentino de Ciências Naturais, de Buenos Aires, estão procurando mais restos daquele que é considerado o maior dinossauro já encontrado na América do Sul e certamente um dos maiores do mundo.
O dinossauro foi batizado de Argentinosaurus huinculensis por seus descobridores. O primeiro nome é uma homenagem à Argentina. O segundo é uma palavra em latim que significa "de Huincul, referindo-se à Plaza Huincul, na província de Neuquén, onde foi encontrado.
Trata-se de um saurópode -um dinossauro herbívoro de grandes cauda e pescoço, com cabeça proporcionalmente pequena- parecido com o titanossauro, outro dinossauro que também se destaca entre os dinossauros gigantes.
Segundo Jose Fernando Bonaparte, diretor do Museu Argentino de Ciências Naturais e um dos responsável pelas escavações, o argentinossauro não é apenas "muito grande. "Ele é um dos poucos dinossauros supergigantes do mundo, disse à Folha.
Os paleontólogos calculam que ele teria cerca de 28 metros. Só a sua perna mediria 5,6 metros, dos quais o fêmur sozinho respondia por 2,5 metros.
A cabeça do argentinossauro ficava a cerca de dez metros do solo, graças às 10 ou 12 vértebras de seu pescoço. Cada uma delas teria entre 0,8 m e 1 m.
Além do fêmur e das vértebras do pescoço, os paleontólogos já encontraram sua tíbia, seis vértebras dorsais (1,6 metro de altura e 1,3 metro de largura cada uma), os ossos sacro e iliáco e duas enormes costelas tubulares de dois metros de largura cada uma delas.
Seu peso seria de 50 toneladas. Alguns pesquisadores afirmam, entretanto, que ele chegaria sem problemas às 100 toneladas.
"Todas essas medidas nos fizeram concluir que o argentinossauro é um dos maiores dinossauros herbívoros e quadrúpedes conhecidos até agora, disse Bonaparte.
A identificação de novas características no imenso corpo do argentinossauro chega mesmo a levantar dúvidas sobre a classificação de outros dinossauros encontrados há muitos anos.
Apesar de sua grande semelhança com os titanossauros, Bonaparte percebeu que o argentinossauro não podia ser classificado como membros dessa família. As diferenças entre um e outro estão na forma das vértebras e da espinha neural de cada um.
Por isso, os cientistas sugeriram que o andessauro e do epaquitossauro, outros dois dinossauros argentinos que haviam sido classificados como subfamílias dos titanossauros, na realidade deveriam pertencer à família dos argentinossauros, por terem as mesmas características.
Bonaparte diz que existiram pelo menos duas "ondas de gigantismo entre os saurópodes.
A primeira foi no período Jurássico superior, há cerca de 140 milhões de anos, no hemisfério Norte. A outra foi no período Cretáceo médio, há cerca de 110 milhões de anos, na América do Sul, época em que viveu o argentinossauro.
No primeiro caso, o sismossauro ocupa o primeiro lugar no ranking de tamanho, sendo um pouco maior do que o argentinossauro. Já no segundo, o espécime argentino ficou em primeiro lugar.
Essas ondas de gigantismo serviriam, segundo Bonaparte, como meio de defesa destes animais.
"Talvez fossem respostas às grandes proporções dos dinossauros carnívoros, que eram seus predadores, como um eficaz meio de defesa. Ou talvez, pelo contrário, pelo grande desenvolvimento dos saurópodes a partir de ambientes muito favoráveis, com muita vegetação, os carnívoros deveriam aumentar seu tamanho para atacar com mais êxito, explica.
As escavações no sítio arqueológico onde se encontrou o argentinossauro começaram em 1989, dirigidas por Bonaparte. Em 1993, paleontólogos do Museu Cármen Funes, de Plaza Huincul, continuaram com as escavações, obtendo novos vestígios do animal.
Esse mesmo museu é o responsável pela guarda dos fósseis do argentinossauro, que estão em exposição ali atualmente.
Os paleontólogos têm esperanças em encontrar novos fósseis na região. Para prosseguir os estudos, a "Dinossaur Society, órgão norte-americano ligado ao assunto, está subsidiando as escavações, que estão sendo conduzidas pelo paleontólogo Rodolfo Coria, do Museu Cármen Funes.

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