São Paulo, domingo, 9 de abril de 1995
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"Jornal de Timon" é importante documento da política colonial

AUGUSTO MASSI
ESPECIAL PARA A FOLHA

"Jornal de Timon é importante documento da política colonial
O terceiro volume da coleção, "O Jornal de Timon, é uma coletânea de folhetins políticos, organizada pelo historiador José Murilo de Carvalho. Ao contrário do jornal "O Carapuceiro" do Padre Miguel do Sacramento Lopes Gama, marcadamente satírico, "Jornal de Timon" traduz a visão de um jornalista e político liberal que passa da militância apaixonada para um sentimento de total desencanto com o seu tempo. Sob este ângulo, podemos dizer que a vida de João Francisco Lisboa (1812-1863) pode ser dividida em duas etapas.
Na primeira delas, militou com afinco no jornalismo e na política do Maranhão, no século passado. Depois de publicar vários jornais -"O Brazileiro (1831), "Echo do Norte (1834), "Chronica Maranhense (1838) e "Publicador Maranhense (1842)- entrou para a política, sempre nas hostes liberais, elegendo-se deputado provincial.
A partir da década de 50, desgostoso com a experiência política, volta seus interesses para a história e para o folclore. Mas foi no ano de 1952, quando começou a publicar o "Jornal de Timon", em forma de folhetins mensais, que encontrou a sua melhor expressão. O pseudônimo tinha inspiração em Timon, o Misantropo, contemporâneo de Sócrates, mas remetendo ao Visconde de Cormenin, que usara o pseudônimo em suas sátiras contra o rei Luís Filipe.
Três anos depois, estava na Corte, substituindo Gonçalves Dias na pesquisa de documentos brasileiros nos arquivos portugueses. Ali publicou os dois últimos folhetins do "Jornal de Timon", dedicados à história do Maranhão e biografias do Padre Antônio Vieira e de Odorico Mendes.
Na sua introdução, o historiador José Murilo de Carvalho, 56, afirma: "ele nos deixou importante contribuição ao conhecimento de nossas mazelas". Dentro de seu desencanto e pessimismo revirou os piores aspectos da nossa política provincial, entre eles, as fraudes eleitorais e as eleições.
José Murilo de Carvalho ainda destaca que, na análise que Timon faz dos presidentes de província, "deixa aparecer uma qualidade que vai muito além do reformismo moralista ou de uma simples narração exata e imparcial de cenas e pessoas. (...) As angústias do presidente em relação a seu futuro, as dúvidas quanto ao apoio da Corte, as incertezas sobre a sorte de sua candidatura a deputado uma vez longe da província, são raras contribuições para o entendimento do lado humano da política no Império. Na mesma linha estão os retratos dos principais líderes provinciais onde, novamente, história e ficção se misturam. Com fina ironia, Timon ridiculariza as principais lideranças, revelando suas fraquezas, as pequenas fraudes cometidas nas construção de suas biografias, o peso do diploma e da riqueza, a importância do emprego público e do empenho".
O desencanto de Timon, que ontem já parecia compreensível, hoje entra na ordem do dia.
(AM)

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