São Paulo, segunda-feira, 10 de abril de 1995
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Brasil é menos vulnerável a efeitos da crise

JOSÉ ROBERTO CAMPOS
ENVIADO ESPECIAL A JERUSALÉM

Qualquer crise séria de fuga de capitais colocaria fatalmente México e Argentina na lista dos países mais vulneráveis da América Latina.
Os fluxos de dinheiro externo entre 1990 a 1994 privilegiaram os dois países, que mais haviam avançado na liberalização de suas economias. O Brasil, um captador de menor importância relativa, mostrou-se bem menos vulnerável.
"O grande afluxo de capitais nos anos 90 é em grande medida uma história sobre o México e, em menor medida, sobre a Argentina", relata um amplo estudo de economistas do Banco Interamericano de Desenvolvimento.
Argentina (18%) e México (45%) receberam a grande fatia dos capitais que migraram para a região, em proporção "muito maior do que a de sua participação na economia regional", diz o documento. O ritmo médio anual de ingresso externo foi de 6% do Produto Interno Bruto da América Latina. A porcentagem foi maior para os mexicanos (8%) e menor para os argentinos (4,5%). No Brasil, ela se restringiu a 2%.
As políticas econômicas de adaptação a esta enxurrada de dinheiro ampliaram a vulnerabilidade do México e da Argentina. Com taxa de câmbio fixa, o governo argentino teve de queimar divisas fortes de suas reservas para defender a paridade de sua moeda valorizada, enquanto que os déficits em conta corrente cresciam.
A conta corrente compreende o saldo de exportações menos importações e o de pagamento de juros, royalties e serviços. Saldos negativos mostram elevação de débitos em relação ao mundo.
Com câmbio flexível e intervenção do governo (caso do Brasil e México)a adaptação envolvia escolhas bem mais complicadas que a da Argentina, como, por exemplo, definir o nível de reservas adequado.
O documento aponta como os países latino-americanos empregaram o dinheiro externo. O Brasil acumulou a totalidade do dinheiro que entrou entre 91 e 94, desvalorizando sua moeda até a entrada do real. A Argentina reservou 25% dos ingressos externos e sustentou a paridade de um para um do peso com o dólar. O México não acumulou nada e ainda perdeu o correspondente a 2% do total de capitais que entraram no país, ao tentar manter o valor do peso.
A comparação com a situação destes países antes da crise da dívida de 82 é ilustrativa. "É notável que o Brasil tenha tido superávits ou pequenos déficits em relação ao período 1977-81", afirma o estudo. "Na Argentina e México, porém, os déficits externos foram muito grandes, tanto em termos absolutos quanto em relação ao dos anos anteriores à última crise".
A enxurrada de dinheiro externo mostrou-se também um substituto para a poupança interna, que declinou na região entre 91 e 94, enquanto as taxas de investimentos cresceram para 22% do PIB na região (com exceção do Brasil).
A ressaca da crise é violenta. Os ajustes são recessivos e os desequilíbrios deixados, graves, especialmente no setor financeiro. Os bancos mexicanos e argentinos estão atolados em empréstimos não pagos ou se vêem às voltas com uma outra e grave fuga de capitais -a de seus depositantes.

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