São Paulo, segunda-feira, 10 de abril de 1995 |
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Elton John volta sorridente do analista
LUÍS ANTÔNIO GIRON
"Made in England", 41º trabalho (incluindo-se as coletâneas) em 25 anos de carreira de Elton John, é a prova cabal de que arte não pode ser o sorriso da sociedade, como queria o saudoso Afrânio Peixoto. Elton se assume como homem feliz e realiza um serviço desastroso para o desenvolvimento do pop. A começar pela capa. Elton parece um convertido da Igreja Universal do Reino de Deus: oculinhos redondos, penteado bom-moço, esboço de sorriso alvar, expressão beata. Só faltava o título ser "Aleluia". Onde nós estamos? O que aconteceu com o rebelde do piano dos anos 70, homem que teve coragem de se declarar bissexual em 1976, pondo a carreira em perigo? O músico que realizou alguns dos melhores arranjos de cordas na arte da balada e que recuperou o rock'n'roll quando o ritmo se dissolvia nos modismos da Motown? Ele está tamponado pela idéia de que "assumiu". Convenhamos, não se é virgem duas vezes. Ninguém tinha dúvida sobre sua homossexualidade. Isso nunca interferiu na sua obra. Por ironia, começa a alterá-la no instante em que pensa ter resolvido a questão. Há pontos positivos. O aspecto dos arranjos melhorou muito em relação à eletrônica desenfreada dos discos anteriores. No último ano, ele lançou um CD duplo de duetos por telefone com chamada a cobrar. Um horror. Agora Elton toca piano e harmônio e canta com tranqilidade. Sua voz sai mais espontânea. Harmoniza como sempre com perícia. Mas não tem como não achar insípidas e piegas as 11 faixas de "Made in England". Mais uma vez, o músico usa a máquina de fazer letras Bernie Taupin. Taupin trabalha por encomenda e Elton pediu-lhe versos moralistas e politicamente corretos. "Believe", uma canção em tom menor, revela uma novidade assombrosa: Elton crê no amor. A faixa-título é um rock que entristece os fãs porque Elton se quer autocomplacente. Em uma espécie de confissão "in extremis" diante de um padre impaciente, ele se diz "homo" e "fabricado na Inglaterra", fascinado por rock e cansado de "40 anos de sofrimento". Depois vem "Pain", outro rock que poderia integrar os exercícios espirituais de Santo Inácio de Loiola. Como um jesuíta enlouquecido, Elton brande o látego contra as próprias costas e grita: "Meu nome é dor/ Você me pertence/ Você é tudo o que eu queria/ Sou tudo o que você será". "Belfast" é uma condenação ao terrorismo. O arranjo para cordas enquadra a melodia operística. Mas a autocomiseração retorna na balada"Lies", uma homenagem a Tennessee Williams e a deixa para mais uma confissão. Sim, Elton mentiu e agora se arrepende. E nós, neste grande psicodrama que se tornou o pop, temos que entender Elton, perdoar Elton, dar-lhe uma força. Mas o disco não tem indulto.(Luís Antônio Giron) Disco: Made in England Lançamento: Mercury/Polygram Quanto: R$ 18,00 (o CD, em média) Texto Anterior: Willis afirma-se no irrealismo Próximo Texto: 'Soft jazz' da dupla Tuck & Patti chega ao máximo da sofisticação Índice |
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