São Paulo, terça-feira, 11 de abril de 1995
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Moradores temem acidente na nova rota

Ônibus vão usar estrada de serviço

DA REPORTAGEM LOCAL

Os riscos de acidente e assalto na estrada de serviço, que será usada pelos ônibus para levar passageiros de Cubatão aos bairros-cota, é o que mais preocupa os moradores locais.
"A estrada é muito íngreme, tem curvas perigosas cercadas por abismos, é deserta, sem iluminação nem policiamento", diz o morador José Roberto Carlos Mariano, 36.
Mariano mora na cota 200 (km 50 da via Anchieta) desde que nasceu. Seu pai foi o primeiro funcionário do DER (Departamento de Estradas de Rodagem) a se mudar para o local para trabalhar na construção da via Anchieta.
"Temo pelos meus filhos que voltam da escola às 17h. Os ônibus chegam a trazer até cem pessoas dentro. Não vão conseguir subir nessa estrada e o risco de assalto é grande."
A moradora Carmen Lúcia Martins Assunção, 29, mora na cota 200 desde que nasceu e diz que não deixa o local "por nada no mundo".
Depois de se casar, Carmen decidiu voltar a estudar e está cursando a oitava série.
"Infelizmente vou ter que parar de novo. Não vai dar para vir de ônibus às 23h na estrada de serviço, é muito arriscado."
Para Marinalva Santos Almeida, 29, a situação é pior. Moradora da cota 400 (km 47), tem que andar 1,5 km do ponto de ônibus até sua casa.
"Meu marido sai do trabalho em Cubatão às 0h30, só vai chegar em casa após as 2h30", disse Marinalva.
A inversão do sentido da pista também vai atrapalhar as compras da família.
"Sábado é o dia que vou à feira e ao mercado em Cubatão. Agora não sei mais como vou fazer porque não dá para subir carregando as sacolas a pé", disse Marinalva.
A dona-de-casa mudou-se com a família para a cota 400 há três anos e meio, quando o marido ficou desempregado. "Desde aquela época não conseguimos mais pagar aluguel e viemos para cá dividir o terreno com um amigo. Depois vieram minha mãe e minha irmã", disse Marinalva.
Cerca de 2 km após a cota 400, no sentido Cubatão-São Paulo, há ainda a cota 500, onde vivem apenas duas famílias.
"Moro aqui há oito anos, já não posso andar direito e agora vamos ficar isolados, teremos que caminhar mais de 3 km para pegar ônibus ou esperar carona", disse a moradora Jacinta da Silva, 62.
Na cota 95 (95 m acima do nível do mar), os moradores não precisarão caminhar, mas vão enfrentar ainda mais a demora para chegar em casa.
Quando a pista da Anchieta funciona para a subida, a cota 95 é o primeiro ponto de ônibus. Na Operação Descida, será o ponto final.
Assim, os ônibus sairão de Cubatão, pela rodovia dos Imigrantes, entrarão na estrada de serviço, na altura da cota 200. Depois, descerão pela Anchieta até Cubatão, finalmente passando pela cota 95.
"Os ônibus vão lotados. Os moradores vão levar horas para chegar em casa", disse o morador Fernando Leopoldo, 38.

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