São Paulo, terça-feira, 11 de abril de 1995
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Bienal do Whitney merece visita rápida

ZECA CAMARGO
EDITOR DA ILUSTRADA

É impressionante como está cada vez mais fácil visitar uma bienal de artes plásticas. Por exemplo, a última Bienal do Whitney Museum, aberta no último dia 23, em Nova York, pode ser bem visitada em cerca de 20 minutos -um tempo até longo, se comparado com os 60 minutos necessários para uma boa contemplação da última Bienal de São Paulo.
Com curadoria do crítico de arte Klaus Kertess, a Bienal de 95 do Whitney tem pelo menos o mérito de ser diversificada. Aliás, mérito nenhum, já que isso é mais uma obrigação -nem sempre cumprida por mostras desse porte.
Na exposição que fica com todos seus andares abertos até dia 4 de junho, Kertess quis inovar. Primeiro, afastando o ranço da arte politicamente engajada que foi a tônica da edição anterior (uma das mais infelizes de toda a história do Whitney). Depois, Kertess manteve o foco na arte americana contemporânea, dentro da missão da Bienal, mas também incluiu artistas canadenses e mexicanos.
Em mais um modesto gesto de ousadia, Kertess ainda inclui artistas para lá de sexagenários, que nunca participaram do circuito consagrado do mercado de arte americana, como John O'Reilly, 65, e Jane Frielicher, 70.
Para completar o convite à indignação, o curador ainda chamou nomes consagrados como Richard Serra e Cy Tomblin, só para que o público pudesse conferir o que eles fizeram nos últimos dois anos.
Nessa Bienal, a fotografia sai ganhando disparado da pintura. Iluminados por trás, dois imensos painéis fotográficos de Jeff Wall são impressionantes. A colagem de imagens do mercado de sexo em Tóquio, feita por Nan Goldin também tem seu impacto.
O mesmo acontece com os retratos pervertidos de Catherine Opie, com os "closes" serenos de David Armstrong e as imagens absurdas de Matthew Barney. Nesse conjunto, até a fase orgânica de Cindy Sherman é louvável.
Fora isso, parece que quem optou por pincel e tinta nos últimos dois anos não se deu muito bem. Veteranos de outras bienais do Whitney como Brice Marden (com suas linhas abstratas) e Frank Moore (com suas cenas improváveis da vida americana emolduradas) indicam que alguma coisa que chamou atenção na década passada ainda tem fôlego.
Muito vídeo e outras coisas aborrecidas completam os 85 artistas escolhidos para dar o panorama da arte contemporânea que está sendo feita nos Estados Unidos.
Muito apropriadamente, Klaus Kertess chamou seu ensaio que abre o excelente catálogo da mostra de "Cartões Postais de Babel". Comparação simples, já que uma coletiva ambiciosa como é a Bienal do Whitney tem mesmo que ter um confronto de linguagens. Só que é fácil se decepcionar com esse confronto. Geralmente o que sobra são trabalhos soltos gritando pela atenção de um visitante que não quer passar mais de vinte minutos dentro do museu.

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