São Paulo, terça-feira, 11 de abril de 1995
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Expedição reúne "fragmentos" do país

MARCELO COPPOLA
ENVIADO ESPECIAL A DIAMANTINA (MG)

A expedição em homenagem ao naturalista alemão Georg Henrich von Langsdorff (1774-1852) já percorreu cerca de 2.000 km por estradas do interior do país.
O grupo é formado por artistas brasileiros e estrangeiros (a maioria alemães) que estão refazendo a célebre expedição científica do naturalista. A viagem começou na última quarta-feira por Minas Gerais e termina no dia 24.
Ontem, eles saíram da rota original de Langsdorff e foram visitar Brasília. Amanhã, retomam o rastro do naturalista e se dirigem ao interior de Goiás.
Entre 1822 e 1836, Langsdorff e sua equipe reuniram um enorme conjunto de informações sobre aspectos naturais do Brasil.
A expedição contava com artistas como Johann Moritz Rugendas (1802-1858) e Hércules-Romuald Florence (1804-1879). As aquarelas e desenhos que eles produziram acabaram se tornando a principal herança da expedição.
A viagem organizada pelo Instituto Goethe também terá um resultado plástico. O grupo de artistas prepara trabalhos a serem exibidos no Masp, de 26 de novembro a 20 de janeiro de 1996.
Não se vai ver, é claro, a exibição de desenhos de plantas ou pássaros. Os componentes da nova expedição estão refazendo a viagem sem qualquer espírito naturalista. Eles não têm, também, o objetivo de montar um painel do país.
Pretendem apenas fazer obras que tenham, de uma forma ou de outra, a ver com a viagem do barão Langsdorff. Para isso, estão colecionando uma enorme quantidade de objetos, fotos e outros "fragmentos", segundo afirmam, dos lugares visitados.
O grupo conta com quatro artistas plásticos e um músico. É acompanhado ainda pelo cineasta alemão radicado no Brasil Wolf Gauer, que prepara um documentário sobre a viagem e pelo curador chileno Pablo Diener.
O alemão Olaf Nicolai está coletando, "com a curiosidade de um turista", objetos de todo o tipo. Em Diamantina (MG), adicionou à sua bagagem desde plantas exóticas a material de corte e costura.
Nicolai quer montar uma instalação que discuta a "ambição totalizadora", segundo afirma, da expedição Langsdorff e da ciência em geral. Não tenho a pretensão de produzir nenhum conhecimento sobre o país, ao contrário de Langsdorff."
O russo Anatolij Shuravlev vai exibir no Masp trabalhos que darão sequência aos que mostrou na última Bienal de São Paulo.
Por meio de processos fotográficos, ele faz com que gravuras antigas ganhem o aspecto de fotografias. Às vezes, faz o caminho inverso e transforma fotos em gravuras. Não sabe, ainda, qual das técnicas vai usar. "Devo trabalhar, de qualquer forma, com gravuras da viagem de Langsdorff ou com fotos dessa nossa viagem."
O brasileiro Carlos Vergara vem fazendo "impressões" dos pisos das cidades por onde passa. Em Mariana (MG) jogou pigmentos sobre lajotas e gravou o resultado em um pedaço de pano. O outro brasileiro da expedição, José Fujoka, trabalhará com fotos antigas.
Música ecológica
O músico alemão Michael Fahres gravou, até agora, sons de carros em movimento, de pássaros e de músicos anônimos. Usará todos esses registros em uma instalação que vai mostrar o contraste entre os sons da época de Langsdorff com os do Brasil de hoje.
É a sexta visita do músico ao país e a primeira desde que abandonou o minimalismo. Hoje, Fahres se diz um artista que faz "música ecológica", sons que possam "ajudar as pessoas a recuperarem a capacidade de ouvir".

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