São Paulo, quarta-feira, de dezembro de
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Dirigente mundial da Anistia critica FHC

CARLOS ALBERTO DE SOUZA
DA AGÊNCIA FOLHA EM PORTO ALEGRE

O secretário-geral da Anistia Internacional, Pierre Sané, disse ontem que a atitude do presidente Fernando Henrique Cardoso em relação aos desaparecidos durante o regime militar é "extremamente decepcionante".
Segundo Sané, que se reuniu com o presidente no dia 29 de março, FHC não demonstrou "entusiasmo" em discutir o assunto por considerá-lo "complicado demais".
O secretário-geral, que deu entrevista em Porto Alegre (RS), encerrando visita de 15 dias ao Brasil, declarou que FHC parece não ter entendido que o crime contra os desaparecidos é imprescritível (ainda pode ser julgado).
Sané, 46, nascido no Senegal (África) e radicado em Londres, afirmou que um chefe de Estado "não pode dizer que tem compromisso" com um problema, como o dos desaparecidos, e não resolvê-lo. Para o dirigente da Anistia Internacional, "não se pode querer esquecer o passado".
Ele disse que o governo tem de esclarecer a situação, para que os responsáveis sejam levados à Justiça e os parentes das vítimas recebam indenização.
Os desaparecidos, que seriam 144, segundo a Anistia Internacional, precisam ter sua identidade recuperada e um enterro digno, disse Sané.
Ele afirmou que a Anistia Internacional "não vai fechar seus arquivos" sobre os desaparecidos políticos no Brasil.
Conforme Sané, o presidente disse que deseja punição exemplar para a chacina do Carandiru, ocorrida em outubro de 92, quando 111 presos foram mortos após rebelião na Casa de Detenção de São Paulo. O secretário-geral disse temer que o compromisso do governo com os direitos humanos seja "mais para efeito de consumo nacional e internacional".
Neste caso, afirmou Sané, a ação oficial não significaria uma determinação em fazer justiça em todos os casos de violação, mas apenas os de grande repercussão.
Sané disse que a impunidade é o principal problema do Brasil.

Outro lado
A assessoria de imprensa do Palácio do Planalto divulgou ontem nota oficial afirmando que "o presidente da República não acredita que o senhor Pierre Sané, com a responsabilidade do cargo que ocupa, tenha afirmado algo leviano como isso".
Segundo a nota, "o presidente acredita que, ao se exprimir em língua estrangeira, não foi entendido pelo senhor Sané, ou que, mesmo entendendo a língua, o secretário-geral da Anistia não tenha entendido suas colocações".

O que é a Anistia
A Anistia Internacional é uma organização não-governamental de defesa dos direitos humanos. Sua sede fica em Londres, tem escritórios em cerca de 150 países e reúne mais de 1,1 milhão de membros no mundo todo.
O presidente da seção brasileira da Anistia é Carlos Alberto Idoeta.
Fundada em 1961 pelo advogado inglês Peter Benenson, a Anistia vive de doações, contribuições de seus membros e da venda de suas publicações. A entidade possui informantes que relatam violações dos direitos humanos.

Colaboraram a Sucursal de Brasília e o Banco de Dados

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