São Paulo, quinta-feira, 13 de abril de 1995
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Fernando, o católico

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Fernando Henrique, que já perdeu eleição por não acreditar em Deus, agora deu para assistir autos sobre Jesus e falar em forma de alegorias cristãs.
Ontem na TV, em mais um discurso "duro", segundo a Bandeirantes e a Record, ele atacou o que chamou de Contra-reforma com uma sequência de metáforas de ironia tortuosa, para não dizer de mau gosto:
- Eu vejo com uma certa pena cartazes nas ruas dizendo, contra as reformas. E eu digo, meu Deus, eu sou tão católico assim, que os protestantes não me queiram? Estamos voltando às trevas, em que a Inquisição era contra as reformas?
Fora o erro da confusão entre a Reforma e a Contra-reforma, entre católicos e protestantes, Fernando Henrique cometeu outro, com outra confusão. Não é a oposição nas ruas que atrapalha as reformas, mas os seus próprios aliados no Congresso.
O presidente até falou do Congresso, mas confundindo ou misturando os petistas com os ruralistas, PC do B com PP, quando os segundos seguem sendo tratados, ao menos pelos ministros, como aliados preferenciais. Não importa como eles votem, o que eles façam.
A confusão entre católicos e protestantes, petistas e ruralistas, soou proposital, na verdade. No primeiro caso, o presidente não se indispõe assim com grupo religioso algum. No segundo, usa um grupo político para atingir, avisar o outro.
Fernando Henrique parece saber que são os seus supostos aliados os maiores inimigos, mas prefere falar por volteios. Por alegorias barrocas.

Sucesso
Para ver como anda a televisão, Lair Ribeiro é agora o principal comentarista do CNT Jornal. Faz comentários diários sobre "sucesso". Um deles, a título de exemplo, é adequado para descrever a relação entre Fernando Henrique e os seus aliados no Congresso, aliados que insistem em votar contra:
- Se você escuta pela primeira vez uma objeção, é possível que essa objeção nunca volte. Ou não. Se ela aparecer pela segunda vez, eu lhe garanto que vai aparecer uma terceira, uma quarta vez. A vida é assim. Se alguém lhe traiu uma vez, deixe passar. Faz de conta que não aconteceu. Agora, se a pessoa trair uma segunda vez...

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