São Paulo, quinta-feira, 13 de abril de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Basquete e vôlei se tornam 'mar de siglas'

GEORGE ALONSO
DA REPORTAGEM LOCAL

Alguma coisa está errada no basquete e no vôlei brasileiros. Os patrocinadores privados e públicos chegaram e deram (e como) vigor a esses esportes. Mas pergunto: alguém lembra do nome dos últimos campeões paulistas ou brasileiros dessas modalidades? Impossível.
São times sem identidade, a gente nem sabe quais cidades eles representam -isso quando representam alguma cidade. A sigla do patrocinador é o que vale, aparece na mídia. Amanhã, se o patrocinador desistir de bancar o jogo (só era jogada de marketing), a equipe some do mapa.
Procuro os torcedores da extinta Sadia, tricampeã brasileira de vôlei feminino.
A verdade é que eles nunca existiram. No vôlei, só há fanáticos por Ana Moser, Ana Paula, Marcelo Negrão, Tande... Os times não importam, são artificiais, sem apelo. Não têm significado emocional.
Na recente final da Liga Nacional de vôlei masculino, a Frangosul (?) venceu a ex-Nossa Caixa, que nos jogos decisivos virou Report (ãããh!). Traduzindo: foi Novo Hamburgo (RS) contra Suzano (SP).
No basquete, em tempo próximo, se sabia que a Francana (de Franca) duelava com os clubes Sírio, Monte Líbano, Palmeiras, Corinthians. Dava gosto.
Depois surgiu o Ravelli/Franca (campeão nacional 90) que em 93 virou All Star Sabesp. Já era um "mar de siglas".
Na história, a campeã foi Franca ou a Sabesp? Evidente, trata-se de mais uma distorção. Outra mais no Brasil.
E a imprensa colaborou. No fim dos 80, assessores pediam a jornalistas para acoplar nos artigos o nome da equipe ao do patrocinador ("pra ajudar o time").
No início dos 90, veio a inversão. O nome do patrocinador passou a aparecer em primeiro lugar, na mídia. Depois, desapareceram os nomes dos times. E, em alguns casos, os times. Procura-se a Ponte Preta, a máquina de basquete feminino (a Nossa Caixa tirou o time de campo).
Na Itália, o sistema é similar ao brasileiro, mas os times representam cidades.
Nos EUA, o Phoenix Suns não vira Goodyear Suns e depois Quaker Suns.
E os ginásios da NBA lotam. Lá, nem na camisa há patrocínio.
Ok, exagerei? Não se deseja negar a importância vital dos patrocinadores para esses esportes -e seus atletas bem pagos. Os resultados internacionais comprovam.
Mas, no futebol, uma vez Flamengo, sempre Flamengo. O corintiano não gritou Kalunga e não grita hoje Suvinil. Imagine a torcida do São Paulo berrando "TAM, TAM". É coisa de maluco. E o Palmeiras é Palmeiras, e a Parmalat não chora o leite derramado.
Já no vôlei dizem que gritam "Cepacol! Cepacol!" às moças de São Caetano. Deve dar dor de garganta.
Ok. Há diferenças. O futebol virou profissão antes. Mas como torcer, se o Leite Moça (Sorocaba) da cestinha Hortência virou Leite Moça da Ana Moser do vôlei? E o BCN da Paula? Virou o BCN de Ana Flávia, capitã da seleção de vôlei.
Hoje, no vôlei e no basquete (ainda que o interior paulista mantenha a tradição como celeiro de cestinhas) é frágil a noção de rivalidade. E o torcedor distante só se emociona com as seleções.

Texto Anterior: Reinaldo vê malandragem
Próximo Texto: Clubes aprovam antecipação da 2ª fase
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.