São Paulo, quinta-feira, 13 de abril de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Massacre no Zaire mata 31 hutus de Ruanda

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Pelo menos 31 ruandeses morreram ontem num massacre no campo de refugiados de Birava, no Zaire, a menos de 10 km da fronteira com Ruanda.
O governo do Zaire acusou o Exército de Ruanda de promover a chacina que deixou mais 52 feridos, 10 deles em estado grave.
"O governo da República do Zaire se reserva o direito de recorrer a todos os meios fornecidos pela lei internacional para garantir respeito a sua soberania", disse Lunda Bululu, chanceler do Zaire.
O chamado Exército Patriótico de Ruanda, controlado pela etnia tutsi, é o sucessor da FPR (Frente Patriótica Ruandesa), que tomou o poder no ano passado.
As cerca de 9.000 pessoas no campo de refugiados são integrantes da etnia rival hutu, que fugiram do conflito étnico em Ruanda.
Segundo Chris Bowers, porta-voz do Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados), pistoleiros desembarcaram no campo, que fica à beira do lago Kivu, na noite de terça-feira.
Eles dispararam suas armas e lançaram granadas, matando 29 pessoas em cerca de uma hora e meia. Dois feridos morreram no hospital, num campo próximo.
Bowers afirmou que os pistoleiros usavam o uniforme ruandês, mas o governo de Ruanda negou que seu Exército esteja envolvido na chacina.
Mais de 500 mil pessoas morreram em massacres em Ruanda desde abril do ano passado, quando os presidentes ruandês e burundinês, ambos hutus, morreram em acidente de avião não esclarecido.
Conclamados por rádio, hutus deflagraram massacres de tutsis. A então FPR respondeu com chacinas de hutus e acabou conquistando o poder. Mais de 2 milhões de ruandeses abandonaram o país.
Na maioria hutus, eles rumaram para campos de refugiados nos países vizinhos: Zaire, Tanzânia e Burundi.
O governo de Ruanda diz que os campos de refugiados no Zaire servem de base para incursões de milícias guerrilheiras hutus em território de Ruanda. Também faz pressão para que campos próximos à fronteira sejam afastados.
"O ataque mostra a instabilidade de campos de refugiados tão próximos da fronteira", afirmou o próprio porta-voz do Acnur. Mas, segundo o Acnur, esse foi o primeiro ataque de forças externas a um campo mantido pelas ONU.
Cólera e falta de comida são outros problemas enfrentados pelos refugiados, que vivem nos campos em condições precárias.
O governo de Ruanda impediu a passagem de 50 caminhões do Programa Mundial de Alimentos da ONU, que atravessavam o território ruandês levando comida e remédios aos campos no Zaire.
Nas ruas da capital, Kigali, milhares de ruandeses fizeram manifestação de protesto contra a presença da ONU no país.

Texto Anterior: Guarda de fronteira dos EUA é acusada de abuso
Próximo Texto: Burundi pede observadores contra conflito
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.