São Paulo, sexta-feira, 14 de abril de 1995
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Indústria se esquiva de aumentos

FÁTIMA FERNANDES; MÁRCIA DE CHIARA

Estudo mostra que matérias-primas petroquímicas pesam 0,5% no preço da cesta básica
FÁTIMA FERNANDES
MÁRCIA DE CHIARA
Reportagem Local
Apontadas como vilãs dos aumentos de preços dos bens de consumo, indústrias de matérias-primas e embalagens e transportadoras mostram que estão longe de serem as grandes culpadas pela aceleração da inflação.
O preço da farinha de trigo, por exemplo, caiu 15% de março de 1994 até hoje por causa da superoferta do produto.
A matéria-prima, no entanto, chegou a ser acusada pelos fabricantes de massas e biscoitos como uma das responsáveis pela alta de 8% a 9% no preço dos seus produtos neste mês.
A embalagem de papelão ondulado -considerada a vilã dos aumentos de preços por unanimidade entre os empresários-, não representa nem 5% do preço final dos artigos de higiene e limpeza, alimentos e eletroeletrônicos.
É isso o que revela pesquisa da Associação Brasileira do Papelão Ondulado feita no mês passado.
Pelo estudo, a caixa de papelão de uma TV de 20 polegadas, por exemplo, representa 0,44% do preço final do produto. No caso do macarrão, a embalagem chega a participar com 3,65%.
Os fabricantes de embalagens plásticas também querem mostrar que estão fora da lista de culpados da alta da inflação.
A Abiplast, que reúne a indústria de embalagens e componentes plásticos, informa que seus preços subiram 10%, no máximo, de novembro de 1994 até hoje.
"Não deu para repassar todos os aumentos -de 25% a 27%, em média- porque o setor é muito competitivo", diz Celso Hahne, presidente da Abiplast.
Estudo da Abiquim, que reúne a indústria química, e da Abief, que reúne empresas de embalagens flexíveis, mostra que as matérias-primas petroquímicas -entre as quais estão as resinas plásticas, usadas na produção de embalagens- pesam apenas 0,5% no preço da cesta básica.
"É natural que o empresariado atribua a responsabilidade dos aumentos de preços para outros setores da cadeia de produção", diz Guilherme Duque Estrada, diretor da Abiquim.
As usinas de aço alegam que se há aumento no preço final do produto não é culpa delas e, sim, das distribuidoras que revendem o produto em pequenas quantidades.
A Companhia Siderúrgica Paulista (Cosipa), por exemplo, informa que mantém os preços dos laminados de aço desde a implantação da Unidade Real de Valor (URV), em março do ano passado.
"Estamos toureando os aumentos de custos desde a entrada do real", diz Luiz Coelho, superintendente da Cosipa.
Ele conta que de janeiro de 1995 até hoje, a empresa registra alta de preços no frete marítimo, de 30%, e, nos serviços para limpeza dos fornos, de 15% a 20%.
Além disso, acumula aumento nos salários dos empregados -de 7%, referente ao dissídio em maio de 1994 e de 15% do adiantamento do IPC-r até janeiro.

Frete
Além das matérias-primas e das embalagens, o transporte rodoviário de carga também foi responsabilizado por aumentos de preços, de até 70%, desde a entrada da URV até hoje.
A NTC, que reúne as transportadoras de carga, informa que os preços ficaram congelados de março a outubro de 1994. De lá para cá, a alta foi de 24,4% a 28,8%.

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