São Paulo, sexta-feira, 14 de abril de 1995
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Cultura revive o fenômeno Aretha Franklin

CARLOS CALADO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Os fãs da música negra têm um bom programa para a noite de hoje. A TV Cultura exibe "A Rainha do Soul", documentário inédito sobre a cantora norte-americana Aretha Franklin.
Não é exagero chamá-la de rainha. De 1967 até o final dos anos 70, Aretha reinou absoluta sobre os domínios do soul e da música pop. Nenhuma outra cantora vendeu tantos discos quanto ela, na história do mercado fonográfico.
Essa popularidade extrapolou o mero aspecto comercial. Através do hit "Respect", a voz emocionante de Aretha rapidamente se transformou num símbolo vivo dos movimentos negros de emancipação, que explodiram nos EUA durante a década de 60.
Realizado em 1988, "A Rainha do Soul" revive a trajetória de Aretha, mostrando trechos de várias de suas apresentações. Inclusive cantando gospel na igreja batista comandada pelo pai, o pastor C.L. Franklin, influente líder negro de Detroit.
O material de arquivo é reforçado no filme por uma entrevista com a própria cantora, além de depoimentos de parentes, produtores e "pop stars" como Ray Charles, Keith Richards e Eric Clapton.
"Deus, é a voz mais bonita desde Billie Holiday", disse o experiente produtor John Hammond, quando ouviu Aretha pela primeira vez, em Nova York, em 1960. Contratou a garota na hora.
Mas o sucesso não aconteceu nos seis anos em que ela gravou para a Columbia. Enquanto Hammond via em Aretha uma cantora de jazz, a gravadora queria transformá-la em estrela pop.
Não foi uma coisa nem outra. Na verdade, a própria Aretha ainda não sabia exatamente o que queria cantar. Pouco hábil com os homens, deixava-se levar pelos palpites de seus maridos-empresários, quase sempre equivocados.
A guinada só aconteceu no final de 66. Endividada com a Columbia, por causa dos adiantamentos que suas vendas não cobriam, Aretha fechou contrato com a Atlantic -concorrente da Motown na liderança do pop negro.
Em vez de continuar fazendo os discos de Aretha em Nova York, o produtor Jerry Wexler resolveu levá-la para gravar no Sul, em Muscle Shoals, Alabama.
Foi tiro e queda. Como se tivesse redescoberto suas origens musicais, Aretha chegou à fórmula que lhe rendeu cinco hits só naquele ano de 1967: uniu a emoção herdada do gospel com a sensualidade do rhythm & blues.
"O gospel é certamente a minha raiz", reconhece a cantora, em seu depoimento para o filme. "É um tipo de sentimento que só se encontra lá, na igreja."
Daí em diante Aretha não saiu mais do topo das paradas. Vários de seus hits ganham imagens nesse documentário, como "Chain of Fools", "Natural Woman", "Call Me" e "Think".
Em meio a esse material há cenas preciosas, como um espontâneo encontro de Aretha com Ray Charles, no palco do badalado Fillmore West, em 1972.
Naquela noite tão especial, a enlouquecida platéia hippie da Califórnia quase entrou em transe, ao ver juntos os dois monstros sagrados da "soul music".
Uma reação semelhante à de George Michael, um dos vários roqueiros que já se renderam à incomparável Aretha e não economizam elogios. "Ela é a melhor".
Título: A Rainha do Soul
Elenco: Aretha Franklin, Ray Charles, Keith Richards, Eric Clapton, Smokey Robinson, Dionne Warwick, George Michael, Whitney Houston e outros
Onde: TV Cultura
Quando: hoje, às 22h30

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