São Paulo, sábado, 15 de abril de 1995
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Aos 81, comunista espera revolução

Elza Monerat, do PC do B, vira personagem de livro

AZIZ FILHO
DA SUCURSAL DO RIO

Aos 81 anos, a comunista Elza Monerat, que participou da guerrilha do Araguaia nos anos 70, acredita que uma revolução popular armada levará o Brasil ao regime socialista.
Elza é o personagem principal de um livro que o jornalista Jaime Saultchuck está escrevendo sobre a guerrilha do Araguaia, feita pelo PC do B entre 1972 e 75 com o objetivo de derrubar o regime militar e iniciar uma revolução socialista .
Membro do Comitê Central do PC do B, Elza Monerat acha que os partidos de esquerda "têm obrigação" de preparar os militantes para enfrentar os militares caso haja um golpe de Estado .
"Eu estou preparada. Posso não ter condições físicas para o combate, mas posso andar um bocado pelas ruas e há muitas outras formas de participar", afirma. Ela costuma ir a todos os protestos contra o governo.
Elza chegou ao sul do Pará, onde se concentrou a guerrilha, em 1966, aos 53 anos, para organizar o movimento. Ficou até 1972, quando o Exército começou a caçar os guerrilheiros.
Ela deixou a região para interceptar, em Anápolis (GO), a viagem que o presidente do PC do B, João Amazonas, fazia de São Paulo para o local da guerrilha, impedindo que ele fosse capturado.
Amazonas e Elza são os únicos sobreviventes dos seis membros do Comitê Central do partido que estiveram na guerrilha.
Hoje, com a ajuda de alguns militares que participaram da repressão à guerrilha, Elza tenta encontrar vestígios dos 59 comunistas desaparecidos.
Elza nunca se casou e não tem filhos. Mora sozinha em um apartamento de quarto e sala no Catete (zona sul do Rio).
"Se eu pudesse, faria tudo de novo. Pena que não tenha idade para ver o início da revolução socialista no Brasil", afirma.
Ela foi presa pelos militares em 1976 e passou, segundo seu próprio relato, "dois anos, oito meses e 15 dias" na prisão, sendo torturada aos 63 anos de idade.
Ex-alpinista, em 1947 escreveu o nome de Josef Stalin (presidente da então União Soviética) no morro Dois Irmãos (zona sul), a 400 metros de altitude.
"O nome tinha 40 metros de comprimento por 12 de altura. Deu uma confusão danada, com os Estados Unidos mandando apagar logo. Os bombeiros tentaram limpar durante uma semana, mas quem conseguiu foi um nazista lituano, que era alpinista", lembra Elza. .

Araguaia
Na segunda metade dos anos 60, os comunistas do PC do B que participariam da guerrilha do Araguaia foram treinados na China e em Cuba.
O regime cubano, que aderiu à revisão do socialismo iniciada pelo então presidente soviético Nikita Krushov, era criticado pelos comunistas que se identificavam com a linha dura do regime chinês, como o PC do B.
A informação do treinamento em Cuba é uma das novidades que Jaime Saultchuck promete para seu livro "Outro mito a ser desfeito é que os guerrilheiros chegaram lá sem armas. Não é verdade. Cada um chegou com pelo menos um revólver calibre 38."

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