São Paulo, sábado, 15 de abril de 1995
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Anistia quer 'clareza' de Covas sobre massacre

DA REPORTAGEM LOCAL

A Anistia Internacional vai enviar carta "em português" ao governador paulista, Mário Covas (PSDB), pedindo "explicações mais claras" sobre o processo e o afastamento dos policiais envolvidos no massacre do Carandiru, ocorrido em 2 de outubro de 1992.
Na ocasião, a Polícia Militar esmagou motim de presos na Casa de Detenção. O resultado da ação foi trágico: 111 detentos mortos.
Durante o debate "Direitos Humanos em Questão", no último dia 6, na Folha, o secretário-geral da Anistia Internacional, o senegalês Pierre Sané, disse que Covas e os secretários de Segurança, José Afonso da Silva, e de Justiça, Belisário dos Santos Jr., não foram "claros" no encontro que tiveram.
Sané perguntou ao governo Covas se os PMs envolvidos tinham sido afastados de suas funções. "A resposta não foi muito clara para mim. E tenho certeza que não foi culpa da intérprete", afirmou.
Segundo ele, quando indagados se, durante o processo judicial, os policiais estão fora da ativa, os secretários, primeiro, confirmaram.
"Mas durante a conversa acabaram dizendo que eles não foram afastados. Por isso, vamos enviar carta pedindo maior clareza. E vamos mandar a carta em português", enfatizou Sané.
Na verdade, PMs envolvidos na chacina ainda estão na ativa. A Anistia Internacional espera firmeza dos governos estadual e federal.
"Os defensores dos direitos humanos já conhecem o ciclo: novos políticos, novas promessas, e aí as promessas não são cumpridas e novos políticos chegam com novas promessas", disse Sané.
Para Sané, a volta da democracia ao Brasil transferiu do eixo político para a questão econômica a violação dos direitos humanos -e os pobres são os mais atingidos.
Luíza Eluf disse que o governo brasileiro está dando prioridade ao caso do Carandiru e à transferência de competência da Justiça Militar para a Justiça comum nos casos de crimes de PMs em serviço.
Ela afirmou também que o governo já estuda a criação de um serviço de proteção a testemunhas e vítimas de violência.
Lindgren Alves declarou que o país deixou de ter a "ótica defensiva do regime militar" sobre o monitoramento da ONU sobre direitos humanos e assinou os tratados internacionais importantes.
Romano disse que as entidades não-governamentais de defesa da cidadania não podem aceitar "o papel odioso de amortecedores sociais e implementar a caridade".

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