São Paulo, sábado, 15 de abril de 1995 |
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Canadense lança livro sobre caso Diniz
CLAUDIO JULIO TOGNOLLI; FERNANDO RODRIGUES
Essa é a principal conclusão do livro "Uma questão de Justiça", da jornalista canadense Isabel Vincent, 30. A editora Record lança a obra no mercado no próximo dia 18, tanto no Brasil quanto no Canadá -onde a primeira edição se esgotou antes de chegar às lojas. Isabel Vincent é chefe do escritório latino-americano do jornal "Globe and Mail", o maior do Canadá. Vincent está no Brasil desde 1991, quando começou a investigar o caso Diniz. O anúncio da publicação da obra de Vincent fez com que membros da Igreja Anglicana, no Canadá, exigissem um boicote. Não só do livro, como também dos jornais que o comentavam. Motivo: Isabel Vincent afirma que os sequestradores Christine Lamont e David Spencer não eram inocentes. E sabiam que estavam se envolvendo com terroristas e ex-militantes de grupos progressistas -afundados economicamente depois do término dos subsídios da ex-URSS. A família do casal canadense chegou a desembolsar quase US$ 1 milhão para compor um lobby (grupo de pressão). Ao grupo, comandado pelo canadense David Humphreys, coube a tarefa de provar, internacionalmente, que os dois canadenses eram inocentes. A jornalista Isabel Vincent diz que esse lobby propunha que o casal fosse expulso do Brasil. Porque aqui, dizia-se no Canadá, os dois sequestradores tinham sido vítimas de "um sistema judiciário corrupto, de terceiro mundo". A história de Christine Lamont e David Spencer começa a mudar de figura a partir da explosão de um bunker, em Manágua, na Nicarágua, no dia 23 de maio de 1993. O local era das Forças Populares de Libertação (FPL), uma facção da Frente Farabundo Marti de Libertação Nacional (FMLN), de El Salvador. No local foram encontradas armas e bombas, junto de mais de 3 mil documentos falsificados. Entre eles, cartas, passaportes e cartões de crédito, acrescidos de fotos dos sequestradores Christine e David. O aparecimento desses documentos foi noticiado, com exclusividade mundial, pela Folha. Com base nas reportagens do jornal a Interpol, a polícia internacional, investigou o assunto. E tirou uma conclusão nada animadora: os dois canadenses faziam parte de uma rede mundial de sequestros. O cartel teria ramificações em mais de 12 países, incluindo terroristas do movimento separatista basco ETA. "Apesar das complexidades do caso, David e Christine poderiam na verdade estar livres hoje, se não fosse essa explosão acidental a quase meio continente de distância", escreve a jornalista. Depois de entrevistar pelo menos cem pessoas, em mais de cinco países, Vincent é taxativa. Se os dois canadenses eram "ingênuos", como dizem seus pais, era simplesmente porque, diz Vincent, "trabalharam para instituir o abecê do esquerdismo militante sobre um continente que já progredira para a economia liberal". O livro traz um trecho polêmico: o delegado Waldomiro Bueno Filho confessou à autora que policiais torturaram os sequestradores, para saber onde Diniz era mantido. "Uma declaração dessas merece a reabertura do caso", diz o senador Eduardo Suplicy (PT-SP). Texto Anterior: O caminho para a justiça Próximo Texto: TRECHO Índice |
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