São Paulo, sábado, 15 de abril de 1995
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Museu suíço expõe literatura de cordel

CLAUDINÊ GONÇALVES
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE NEUCHÂTEL

"Literatura de Cordel, o Brasil dos Poetas" é o título da exposição realizada pelo Museu de Etnografia de Neuchâtel, conhecido em toda a Suíça. A exposição, inaugurada dia 24 de março, termina dia 12 de maio.
Na origem da exposição está o etnólogo suíço Jean-Louis Christinat, 60, professor na Universidade de Neuchâtel, que há anos faz pesquisas no Brasil sobre Literatura de Cordel.
"O museu apresenta as atividades do homem e o cordel é um fenômeno muito importante no Brasil que merece ser apresentado aqui porque o suíço não sabe que isso existe", afirma Christinat.
Estão expostos 81 folhetos, divididos por temas e montados em tabuleiros iguaizinhos aos encontrados nas feiras e mercados. Também estão expostas dezenas de pranchas de xilogravura utilizadas para ilustrar as capas dos folhetos. Para completar o ambiente, fotos de feiras e poetas e som de repentistas gravado no Brasil.
Na brochura que orienta o visitante, Christinat explica que a literatura de cordel veio de Portugal e é essencialmente oral. Ela começou a ser impressa no Nordeste no final do século passado, com a chegada das primeiras impressoras, mas o folheto continua sendo apenas suporte para o poema ser cantado ou lido em voz alta.
Entre as características do cordel destaca "a agilidade mental" dos poetas, o fato de essa arte ser vista com "desprezo" pela cultura erudita e a rapidez da escritura, edição e circulação dos folhetos.
Como exemplo, Christinat cita o poeta Monteiro Silva, que ouviu no rádio o anúncio do suicídio de Getulio Vargas, em 24 de agosto de 1954. No dia seguinte, junto com os jornais, "o folheto estava na rua e vendeu 70 mil exemplares em 48 horas".
O etnólogo também separa os folhetos "tradicionais" dos "modernos", estes editados pela Luzeiro, em São Paulo, com capas coloridas, formato maior e ortografia corrigida -sempre com o intuito de "divertir e nunca o de informar".
Quanto às ilustrações, as primeiras eram feitas em clichês de zinco nas gráficas de Recife. A xilogravura veio mais tarde, na década de 20, inicialmente também em Pernambuco.
Para Christinat, as imagens das capas dos folhetos têm um papel simbólico muito importante. "Quando a leitura acaba, a imagem continua a falar e ajuda a reconstituir a história", afirma.
Lembra ainda que a xilogravura de cordel tornou-se uma arte autônoma, hoje encontrada em galerias inclusive na Europa e EUA. É o caso, por exemplo, do poeta e gravador José Francisco Borges, que ilustrou "As Palavras Andantes" de Eduardo Galeano, em 1993.

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