São Paulo, domingo, 16 de abril de 1995
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QUEM É CACÁ DIEGUES

JOSÉ GERALDO COUTO
DA REPORTAGEM LOCAL

Carlos José Fontes Diegues, nascido em Maceió (AL) em 1940 (mudou-se para o Rio aos seis anos), é um dos mais representativos diretores do Cinema Novo, movimento que ajudou a criar, ao lado de Glauber Rocha, Leon Hirszman, Joaquim Pedro de Andrade, Davi Neves, Gustavo Dahl e Paulo César Saraceni.
Sua filmografia reflete as diversas fases e preocupações do movimento: do olhar crítico aos problemas sociais (em "Cinco Vezes Favela", realizado pelo CPC - Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes), evolui para a releitura alegórica da história do país ("Ganga Zumba", "Os Herdeiros") e finalmente atinge a busca de uma comunicação mais direta com o público pela via da cultura popular ("Xica da Silva", "Quilombo", "Bye Bye Brasil").
Nessa trajetória, a amargura militante dos primeiros filmes foi cedendo lugar a uma visão mais doce e poética do homem brasileiro -o que não significa que Diegues tenha sido sempre bem-sucedido em suas tentativas.
Se acertou a mão em "Bye Bye Brasil" -retrato vivo e pulsante de uma cultura em transformação-, errou feio em "Quilombo", apologia da cultura negra soterrada pela teatralidade e pelas boas intenções.
Seus dois filmes posteriores, "Um Trem para as Estrelas" (1987) e "Dias Melhores Virão" (1989), realizados num momento de aguda crise do cinema brasileiro, revelam uma tentativa algo desajeitada do diretor de se adaptar aos novos tempos através da busca de novos temas. No primeiro caso, os "sonhos da juventude urbana"; no segundo, a ilusão da TV.
Alguns dos sucessos do diretor, como "Xica da Silva" e "Bye Bye Brasil", tiveram repercussão internacional. Diegues, aliás, sempre foi -e ainda é- um dos diretores brasileiros com mais fácil trânsito junto a financiadores estrangeiros. Foi um dos primeiros a realizar uma co-produção internacional no país, com "Joana Francesa" (1973), protagonizado pela estrela francesa Jeanne Moreau.
Para além de seus filmes, o cineasta tem sido um dos mais ativos e influentes intelectuais do país na discussão político-cultural. Algumas de suas formulações ficaram célebres, como a denúncia das chamadas "patrulhas ideológicas", no final dos anos 70, ou a rejeição do "autolinchamento" dos brasileiros, no início dos 90.
Solidário com seus colegas de ofício, Cacá Diegues se associou a vários deles: co-produziu "Terra em Transe", de Glauber Rocha, roteirizou "A Estrela Sobe", de Bruno Barreto, produziu "Dedé Mamata", de Rodolfo Brandão.
Diegues tem desempenhado também um papel importante na busca de novos modos de produção e distribuição de filmes no país. "Dias Melhores Virão" (1989) foi lançado primeiro na televisão. A estratégia ocasionou problemas com os exibidores, que boicotaram o filme.
Seu trabalho seguinte, o longa-metragem em quatro episódios "Veja Esta Canção", foi co-produzido pela TV Cultura de São Paulo e exibido primeiramente na emissora. Desta vez, o esquema funcionou: nos estados não-atingidos pela emissora, o filme teve boa bilheteria.
Outro aspecto inovador do filme é sua associação com a música popular: seus episódios são inspirados e musicados por canções de Caetano Veloso, Chico Buarque, Gilberto Gil e Jorge Benjor.
Numa virada de 180 graus com relação ao baixo orçamento de "Veja Esta Canção" (US$ 300 mil), o filme que Diegues está preparando agora, "Tieta", será uma grande produção internacional orçada em US$ 2 milhões. O filme será rodado na Bahia, com capital da distribuidora UIP, participação do produtor inglês Donald Ranvaud e Sonia Braga como protagonista. (José Geraldo Couto)

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