São Paulo, segunda-feira, 17 de abril de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Os braços de Zetti e o franzino Dionísio

Procuram-se doadores de cérebro

MARCELO FROMER E NANDO REIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Se nos perguntassem qual cena melhor resumiria o que se passou nesse primeiro turno, responderíamos, sem dúvida nenhuma, que foi aquela protagonizada pelo goleiro Zetti e o árbitro Dionísio Roberto Domingos na partida entre São Paulo e XV de Piracicaba.
A imagem sólida do goleiro, gesticulando seus enormes braços abertos em arco, sobre a figura franzina do juiz, enrugado em seu uniforme preto, contém todos os elementos presentes nos jogos disputados até então: a enorme distância entre a envergadura do futebol praticado pelos atletas e a baixa estatura da qualidade das arbitragens.
E não haveria, ainda, melhores personagens do que os dois presentes no epílogo revelador. Zetti, arqueiro do São Paulo, jogador de temperamento conciliador, frequente na seleção.
Este excelente guarda-metas, experiente como poucos, um Burt Lancaster dos gramados, um veterano nas peculiaridades do nosso Campeonato Paulista, esse expert da diplomacia... perdeu a calma.
E não foi no La Bombonera, ou num estádio de Quito, pirateado por um juiz mal intencionado, vítima da pressão da torcida local. Foi no próprio Morumbi. E aqui entra em cena o segundo e espectral personagem: o "referre", como eram conhecidos os juízes nos velhos tempos, o senhor Dionísio.
Agindo em total desacordo com as poucas e objetivas regras estampadas no único livro que deveria conhecer, o senhor Dionísio, apesar do pomposo nome, agiu vulgarmente. Assinalando um pênalti inexistente, cristalizou nesse ato a tônica da nossa arbitragem: escandalosamente incompetente.
Será que de tal maneira nos acostumamos com as barbáries cometidas pelos árbitros que não enxergamos mais o óbvio? Não se trata de ampliar o prejuízo específico de um erro ocasional. Trata-se, sim, de lembrar que não houve nem uma semana sequer em que não estivéssemos discutindo sobre um pênalti, um gol ou uma falta.
Assistimos um futebol do absurdo, intermediado por arbitragens surreais. Socorro!
Mas tudo isso não faz menor o mérito da Portuguesa, que terminou o turno como a equipe melhor colocada na tabela. Infelizmente, nenhuma espécie de bonificação ou vantagem levou a lusa, graças ao curioso sistema de disputa do nosso torneio.
Diante deste lamentável quadro -onde o nosso campeonato conseguiu ser menos emocionante do que o dos nossos vizinhos cariocas- e aproveitando a idéia de um simpático e altruísta torcedor, que ofereceu a cartilagem de seu menisco para a recuperação do holandês Van Basten, seria interessante que juntássemos esse item à nossa campanha: estamos à procura de voluntários dispostos a doarem seus cérebros para os membros responsáveis pelo formato do nosso ainda chocho torneio. O resto ainda é fato.

A sugestão para as mudanças nas regras do futebol vem de Sergio Sinoara, de Araraquara (SP): "Colocar paredes de acrílico nos limites do campo para evitar paralisações".

Cartas podem ser enviadas para a Editoria de Esporte, al.Barão de Limeira, 425, 4º andar, São Paulo-SP, CEP 01290-900

Texto Anterior: Goleiro pede explicação a juiz
Próximo Texto: Juventus vence e provoca crise no Bragantino
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.