São Paulo, segunda-feira, 17 de abril de 1995
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O rosto da campeã

CIDA SANTOS

A vitória do Leite Moça nesta temporada tem um rosto: Ana Moser. Ela passou os últimos quatro meses em uma luta particular contra uma contusão no joelho esquerdo. No dilema entre operar ou não operar, não vacilou: tomou analgésicos, diminuiu as dores e jogou 23 partidas. Sábado, depois da vitória sobre o BCN, a capitã teve que fazer força para não chorar.
Uma das cenas mais tocantes desta Superliga foi no primeiro jogo das semifinais entre Leite Moça e L'Ácqua di Fiori. O técnico Sérgio Negrão reparou que Ana Moser a todo instante colocava as mãos no joelho machucado. Parecia com muitas dores. Preocupado, perguntou se ela queria ser substituída. A resposta veio rápida: "quero jogar". Resultado: continuou em quadra até o final.
No esporte, você sabe, só é titular aquele que está jogando bem. Por isso, o mais espantoso é que, apesar dos pesares, o aproveitamento de Ana Moser foi dez. No saque, foi uma das melhores do time. Em 22 jogos -sem contar o de sábado-, deu 256 saques, dos quais 39 foram pontos diretos.
Ana Moser saltou 521 vezes para atacar e conseguiu colocar 238 bolas no chão. Ou seja: sem defesa para o adversário. Na recepção, mostrou evolução. Teve um aproveitamento de 75%. Para você ter uma idéia, dos 330 saques que ela recebeu, 191 foram perfeitos para a mão da levantadora.
Nestas finais, o time de Ana Moser viveu pelo menos 18 minutos de perfeição. Foi no segundo set do jogo contra o BCN, na última quarta-feira. O Leite Moça marcou 15 a 0. Traduzindo: a equipe simplesmente não errou. Um placar inédito em finais de Campeonato Brasileiro e cruel para o perdedor.
O time campeão também contou com uma levantadora ousada, veloz e com um raro talento -entre as jogadoras da posição- para atacar. Fernanda, que no início de sua carreira era atacante, soltou a mão na Superliga. Em 27 jogos, ela largou 193 bolas. Ou seja: em lugar de levantar para a atacante, ela mesma bateu para a quadra adversária. E teve sucesso. Colocou 94 bolas no chão. Terminou a temporada com índice de grande atacante: 73% de eficiência.
O BCN, que fez campanha perfeita na primeira fase, perdeu a atacante Fernanda Doval e não foi mais o mesmo. Pena. As finais poderiam ter sido mais disputadas.
Agora, é tempo de férias. Tempo para Ana Moser resolver se opera ou não o joelho. Seja lá qual for a alternativa, boa sorte.

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