São Paulo, segunda-feira, 17 de abril de 1995 |
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Série traz 2 quartetos raros de Tchaikóvski
LUÍS ANTÔNIO GIRON
As capas dos 24 títulos da série "Digital Focus" contêm imagens de cartão-postal típicas do gênero. Repertório e intérpretes, porém, reservam alguma surpresa. Já a série "St. Petersburg Classics" se investe de maiores pretensões. As capas mais elaboradas envolvem discos com obras de maior fôlego. As duas linhas de produto têm a mesma fonte. Aproveitam os músicos formados na rigorosa tradição soviética. Com o fim do comunismo, os artistas das antigas repúblicas partiram para a concorrência. Adotaram o "dumping" e cobram até 90% a menos que os colegas ocidentais, com idêntico ou maior talento. O "off price" começa no custo das sessões de gravação. As coleções reúnem intérpretes russos e georgianos desconhecidos e de boa qualidade. Nesse sentido, a Sony leva vantagem em relação à estratégia da gravadora Movieplay, que aposta em medíocres músicos portugueses e eslovenos. A Sony traz o repertório popular a cargo de grupos como o Estúdio de Música Clássica de São Petersburgo, a Orquestra New Philarmony de São Petersburgo e a pitoresca Georgian Festival Orchestra (tocando, vejam só, o "Bolero", de Ravel). Tudo muito palatável. O lançamento mais relevante é a integral em CD duplo das obras para quarteto de cordas do compositor russo Piotr Tchaikóvski (1840-1893), pelo jovem Quarteto de Cordas São Petersburgo. O compositor, conterrâneo do grupo, se fez conhecido mais pelas peças melífluas arqui-românticas do que suas partituras de peso. Sua produção camerística, no entanto, possui qualidades insuspeitas. Tchaikósvki escreveu três quartetos de corda, um sexteto e um trio com piano. Não formam o fulcro de seu estilo lírico, detectável nas seis sinfonias. Seus quartetos são considerados ensaios hesitantes por críticos como o norte-americano Paul Griffiths ("The String Quartet", 1978). Mas a gravação russa denuncia o preconceito. Tchaikóvski sabia tecer boas tramas contrapontísticas e manter uma tensão dramática entre os movimentos. Compôs quartetos num período restrito -de 1871 a 1876- e deixou alguns esboços curiosos, incluídos pela primeira vez em disco no CD do São Petersburgo, gravado em 1994. Até então, os quartetos Borodin (Melodyia, 1988) e Gabrielli (Decca, 1976) abordavam obras oficiais em leituras acadêmicas. Os CDs do São Petersburgo trazem também os "Quatro Movimentos para Quarteto de Cordas" e o "Quarteto em Si Bemol Menor, Opus póstumo". O primeiro é obra juvenil, composta em 1864, e revela engajamento no classicismo. O mestre não teve tempo de concluir o segundo. Mas é a mais densa peça camerística que realizou. Seus dois movimentos conformam um campo de força trágico comparável aos últimos quartetos de Beethoven. A interpretação entusiasmada do grupo faz jus à inquietude da peça. Coleções: Digital Focus e St. Petersburg Classics Lançamento: Sony Quanto: R$ 12,00 (o CD, em média) Texto Anterior: Sai CD para fãs de Morissey Próximo Texto: PARALAMAS; FOO FIGHTERS; HOME-VÍDEO; SALVA-VIDAS Índice |
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