São Paulo, terça-feira, 18 de abril de 1995
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Auditoria mostra que banco favoreceu o grupo Bloch

AUGUSTO GAZIR; DANIEL BRAMATTI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Auditoria mostra que banco favoreceu o grupo Bloch
TV Manchete e Bloch Editora devem R$ 80,7 mi, a maior dívida do BB
Documento confidencial obtido pela Folha demonstra que o Banco do Brasil dispensa um tratamento privilegiado ao grupo empresarial Bloch desde a década de 40. Trata-se de auditoria do próprio BB.
Segundo os documentos, já naquela época o banco cobria déficits ocasionados por duplicatas não pagas e cheques sem fundos emitidos pela empresa. O grupo Bloch, que inclui a TV Manchete e a Bloch Editores, deve R$ 80,7 milhões ao BB. É o maior devedor individual do banco.
O débito, engordado por empréstimos concedidos ao grupo e não pagos, já foi contabilizado pelo BB como prejuízo "irrecuperável ou de difícil solução". A auditoria obtida pela Folha foi concluída em março de 93.
A prática de "acatamento de cheques sem fundos e títulos descontados não honrados", como define a auditoria, se repetiu entre 28 de abril de 1988 e 31 de agosto de 1989.
O relatório da auditoria, com 83 páginas, não responsabiliza ninguém pelos prejuízos. Sem mencionar nomes, diz apenas que a cobertura dos buracos nas contas das empresas Bloch, mantidas na agência Centro do Rio, eram autorizadas diretamente pela Superintendência do BB no Estado.
Só em 92 o BB decidiu cobrar na Justiça os saldos devedores. A própria assessoria jurídica do banco, porém, reconheceu na auditoria que a instituição não teria direito a correção monetária desde o dia em que cobriu os cheques sem fundo, mas apenas a partir do ajuizamento do caso.
Em 1993, apesar de já estar afogado em dívidas, o grupo Bloch conseguiu novos empréstimos, mesmo com um parecer contrário da agência Tiradentes (RJ). O dinheiro foi liberado novamente com o aval da superintendência do BB no Rio.
"O grupo Bloch vem, de longa data, descumprindo seus compromissos junto ao banco, não obstante as oportunidades recebidas, e sua inadimplência tem se mostrado crescente", constatou a auditoria.
Testemunha
O aposentado Oswaldo Guilherme Gebler, 75, afirma que trabalhou na agência do BB da Praça da Bandeira, no Rio, na década de 50, e que presenciou a compensação de cheques sem fundos feitos pelo grupo Bloch.
Na auditoria obtida pela Folha, existe anexada uma carta de Gebler, datada de 16 de junho de 1992, "denunciando" ao BB as operações feitas pelo grupo.
"Eles tinham uma conta de depósito sem limite. Os cheques eram aceitos irregularmente pela administração da agência. Tinha corrupção", acusa Gebler.
Segundo ele, essas operações duraram muitos anos na década de 50 e que não dá para saber quantos cheques sem fundos o banco compensou.
"Eu presenciava isso, mas não tinha a quem denunciar. Ninguém se interessa por denúncias de corrupção no BB", disse.
A exemplo da posição que adotou em relação às listas de devedores divulgadas pela Folha na quinta-feira passada e ontem, o BB não quis se pronunciar sobre o caso Bloch. Alega que os dados estão protegidos pelo sigilo bancário.
A assessoria de imprensa do BB em Brasília alega que, se fizer comentários sobre dívidas de seus clientes, estará ferindo o sigilo imposto por lei.

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