São Paulo, terça-feira, 18 de abril de 1995 |
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A viagem relevante de FHC
LUÍS NASSIF
Não se pense em grandes acordos diplomáticos ou comerciais sendo assinados de imediato. O trabalho diplomático assemelha-se a uma semeadura, que necessita de tempo e paciência para se transformar em colheita. Em um mundo dominado pela informatização e pela impessoalidade dos relatórios técnicos, as avaliações pessoais ainda costumam ser decisivas na definição de negócios. E o presidente da República desempenha papel fundamental na formação de expectativas, favoráveis ou não ao país. É opinião unânime entre estudiosos da matéria, como o atual ministro da Fazenda, Pedro Malan, que a melhor negociação da dívida externa foi com os credores americanos no governo Jânio Quadros. Comandava a frente de negociação americana o embaixador Walther Moreira Salles e a frente européia o também embaixador Roberto Campos. Valeram em muito os contatos de Moreira Salles com o mundo financeiro e diplomático americano. Mas as expectativas positivas geradas pela eleição e pelos primeiros pronunciamentos de Jânio foram fundamentais. "Havia um clima único de boa vontade dos Estados Unidos em relação ao Brasil", conta o embaixador. "A perspectiva de um presidente que levava a sério a disciplina das contas públicas, que exercitava o discurso da modernização dos hábitos políticos, foi um marketing extraordinário para o Brasil". Logo depois, o governo Jânio degringolava e o país não conseguiu produzir mais nenhum presidente que pudesse projetar a imagem do país no mundo com a mesma competência que o grande artista Jânio -independentemente de seus inúmeros defeitos. Jango era um provinciano deslumbrado pela imagem de John Kennedy. Os presidentes do regime militar sofreram boicote justo e generalizado da mídia americana, pelos constantes atos de desrespeito aos direitos humanos. Nos anos 80, o que houve de mais expressivo na visita de José Sarney aos Estados Unidos foi a revelação de um sem-número de laptops contrabandeados pela comitiva. Sem esmolas Agora, tem-se um presidente intelectualmente preparado, um embaixador em Washington -Paulo Tarso Flecha de Lima- que conhece como ninguém a arte da promoção e da recepção diplomática e o fim da utopia argentina e mexicana no imaginário do mundo financeiro local. Melhor: não se vai atrás de esmolas dos organismos multilaterais. O que se pretende é "vender" as oportunidades do país para os investidores e para o governo americano. Pode ser que a visita se dilua na grande caixa de ressonância que é a mídia americana. Mas tem tudo para se transformar em um dos grandes momentos da diplomacia brasileira. Texto Anterior: México obtém US$ 3 bi dos EUA Próximo Texto: 'Poupança salário' do BB derruba captação Índice |
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