São Paulo, quarta-feira, 19 de abril de 1995
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Calote no comércio aumenta 71%

FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Os atrasos dos consumidores no pagamento de suas contas está desencadeando uma situação de escassez de dinheiro e insolvência para várias empresas comerciais e industriais de São Paulo.
No mês de março, aumentaram 28,16% os pedidos de falência (fechamento de empresas) no Estado, segundo a Associação Comercial.
O pedido de falência tem sido a principal arma das empresas de cobrança independentes para reaver o dinheiro de seus clientes.
O volume de cobranças judiciais (títulos protestados) cresceu 48,1% em março sobre fevereiro (e 44% sobre março de 94) só no setor empresarial, somando 407,5 mil no mês passado em todo o Brasil. Cerca de 40% desses protestos foram na região Sudeste.
No mesmo período, o calote no crediário (prestações de compras a prazo não pagas) cresceu 71,56%. A expectativa é que aumente outros 24% em abril (sobre março), chegando a 270 mil pessoas inadimplentes.
Sobre março de 1994, o número de pessoas que não estão pagando contas cresceu 165,5%.

Círculo vicioso
"É um círculo vicioso que está colocando muita empresa em dificuldade -um forte sinal do desaquecimento econômico que vem por aí", diz Marcel Solimeo, diretor do Departamento de Economia da Associação Comercial de SP.
Neste "círculo vicioso" o consumidor não paga suas contas, o comércio não recebe e acaba não tendo como pagar a indústria que o abastece. Estas indústrias, por sua vez, não pagam seus vários fornecedores de matérias-primas.
O calote cresce a uma velocidade muito maior que a do aumento das vendas. Enquanto os atrasos cresceram 71,56% em março sobre fevereiro, as vendas a prazo tiveram evolução de 15%.
O volume de calotes registrados pelo comércio em março (218.769) equivale a 29,4% do total das vendas a prazo realizadas no mês (742.424) -embora os atrasos sejam de prestações contratadas em meses anteriores.
Neste cenário, as empresas contratadas pelo comércio e indústria para cobrar devedores têm contratado mais funcionários e dobrado seus negócios. Cerca de 90% dessas cobranças estão concentradas no segmento empresarial.
As dívidas estão sendo refinanciadas em até 90 dias, com juro de até 20% sobre os valores devidos.

LEIA MAIS sobre inadimplência às págs. 2-3 e 2-4

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