São Paulo, domingo, 30 de abril de 1995 |
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Parlamentares fazem de tudo pela fama
CYNARA MENEZES
A coleção de adeptos das performances já inclui o senador que anda de sandália de couro -e sem cueca-, a deputada que pinta o cabelo para combinar com a da cor da roupa e até o deputado que escorregou em um tobogã de paletó e gravata. A façanha do tobogã, transmitida pelas TVs locais, foi protagonizada pelo deputado Robson Tuma (PL-SP) ao tomar posse na presidência do Clube do Congresso. Ele inaugurava o tobogã e, não satisfeito em escorregar uma vez, pela manhã, aceitou repetir o feito à tarde para as lentes de fotógrafos e cinegrafistas que tinham perdido a cena. Detalhe: o tobogã no qual Tuma escorregava terminava em uma piscina. A deputada Esther Grossi (PT-RS) quer ser reconhecida como educadora, mas ficou famosa por pintar os cabelos da mesma cor que as unhas e o vestido, liga para as redações de jornais para avisar os fotógrafos sobre o figurino do dia. Há duas semanas, telefonou para dizer que iria à Câmara a bordo de um inacreditável tailleur (traje feminino em duas peças) com estampa do bloco afro-baiano Olodum. A também novata Vanessa de Felippe (PSDB-RJ), suplente da Mesa Diretora da Câmara, descobriu uma forma infalível de conseguir destaque: fica "estacionada" estrategicamente, e, quando o presidente da Casa, Luís Eduardo Magalhães (PFL-BA), sai, ela prontamente assume a presidência. O verde Fernando Gabeira (RJ), um pouco por hábito e muito por marketing, vai a solenidades públicas de bicicleta e se destaca com seus ternos exóticos. No último dia 11, saiu de uma audiência com o presidente Fernando Henrique Cardoso, no Palácio do Planalto, de bicicleta. Fez a festa dos fotógrafos. O senador Gilvan Borges (PMDB-AP), que só anda de sandália de couro de búfalo e alardeia não usar cueca, explica: "É que sinto muito calor". Piadas A tática da anedota também é muito comum para conseguir espaço na mídia, principalmente em colunas de notas. São campeões no gênero os senadores Esperidião Amin (PPR-SC) e Roberto Requião (PMDB-PR) e o deputado Humberto Souto (PFL-MG). Na quarta-feira passada, enquanto se discutia a reforma da Previdência na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), Souto contava piadas (durante meia hora) no cafezinho do plenário. Requião é o campeão de emendas ao projeto de patentes, que regulamenta direitos sobre propriedade intelectual, mas nem escuta as discussões. Prefere ficar falando frases de efeito para os jornalistas. O presidente da CCJ da Câmara, Roberto Magalhães (PFL-PE), chegou a comentar com um assessor sobre a dificuldade de se votar a reforma da Previdência com tantos flashes e câmeras de TV. Uma semana antes, em apenas uma tarde, a comissão havia votado 50 projetos. Já a votação da reforma da Previdência durou mais de dez horas: além da dificuldade do tema, era só acender a luz de uma câmera de TV, que um deputado pedia uma questão de ordem. Os deputados do PC do B têm uma tática que devem ter herdado do movimento estudantil: são dez, mas fazem barulho por cem. Mas ainda não conseguiram vitórias políticas no grito. Na comissão que votou o fim do monopólio do gás canalizado, os parlamentares do PC do B tinham seis votos, mas quem entrasse na sala pensaria que estavam ganhando a parada. O governo, que tinha 24 votos, é que acabou vitorioso. Texto Anterior: Brasil evita retaliação dos Estados Unidos Próximo Texto: Delfim recomenda 'economia' Índice |
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