São Paulo, domingo, 30 de abril de 1995
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Loteca deu a Miron terra, gado e dentes

MAURICIO STYCER
DA REPORTAGEM LOCAL

O goiano Miron Vieira de Souza dá apenas um conselho ao ganhador da Supersena: "Quem compra terra nunca erra".
Fazendeiro bem-sucedido, Miron lembra pouco o comerciante desdentado, semi-analfabeto e humilde de 20 anos atrás.
"Naquela época, o grande sonho da minha vida era comprar uma fazenda", conta.
Mas, endividado até o pescoço, e com seis filhos para criar, Miron mal conseguia manter um pequeno armazém na cidade de Ivolândia, no interior de Goiás.
Hoje, é dono de pelo menos três fazendas, cria porcos e tem 3.000 cabeças de gado.
A vida de Miron mudou no dia 28 de outubro de 1975, quando acertou sozinho os 13 pontos no concurso 254 da Loteria Esportiva.
Naquele domingo, o Vasco perdeu por 1 a 0 do América do Rio Grande do Norte, jogando no Rio.
A "zebra" derrubou grande parte dos apostadores. Miron, sabe-se lá por que, marcou jogo duplo -coluna 1 e coluna 2.
Ganhou Cr$ 22.068.209, ou US$ 2,5 milhões, o maior prêmio pago então no mundo a um apostador em jogo de prognósticos.
O seu feito o colocou -sorrindo, com poucos dentes- na primeira página de todos os jornais.
Quando sumiu do noticiário, a primeira coisa que fez foi mandar colocar uma dentadura.
Hoje, Miron preferia que o tivessem esquecido de vez. Tem medo de ser relembrado e prefere não falar de seus bens.
O fazendeiro conta que recebe muitos convites para jogar com outras pessoas -e costuma aceitar. "Sabe como é jogo, né? Tem que jogar para ver o que vai acontecer", diz.
Ganhar não é difícil, ensina o apostador. "Não tem segredo. Tem que fazer o joguinho", diz. Com um detalhe: "O 13. Sempre aposto nesse número."
Miron joga na Sena toda semana. "Quem faz o jogo está suscetível de ganhar", diz, do seu jeito.
Se voltasse a ganhar um prêmio milionário, Miron primeiro aplicaria o dinheiro na Caixa Econômica. "Punha o dinheiro para quietar. Até baixar a poeira. Depois, comprava terra e gado", ensina.
Em sua fazenda em Iporá (a 220 km de Goiânia), onde comanda 20 empregados, Miron só se preocupa com o futuro dos filhos.
"Eu só sei assinar o nome. Os meus filhos, não. Estou batalhando por eles. Comprei uma fazenda para um. Uma outra se formou em direito ", diz, cheio de orgulho. (MSy)

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