São Paulo, segunda-feira, 1 de maio de 1995
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Sócio foragido de PC é preso na Argentina

RUI NOGUEIRA; OLIMPIO CRUZ NETO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Polícia Federal argentina prendeu ontem, em Buenos Aires, às 11h45, Jorge Waldério Tenório Bandeira de Melo, piloto e ex-sócio minoritário (5% das ações) do empresário PC Farias na empresa de táxi aéreo Brasil Jet.
O piloto foi condenado pelo STF a um ano e dois meses de prisão em regime semi-aberto por falsidade ideológica. Processo da 10ª Vara Federal o condenou também a quatro anos de prisão por sonegação. Há ainda contra ele um outro pedido de prisão preventiva por conta de evasão de divisas (remessa irregular de dinheiro para o exterior)
Bandeira estava foragido da Justiça brasileira há um ano e dez meses e é considerado pela Polícia Federal um dos principais ``arquivos" do caso PC. Ele está preso na sede da Interpol em Buenos Aires, na rua Suipecha, 58 -também sede da PF (Polícia Federal) da Argentina. Brasil e Argentina têm acordo de extradição.
Operação
A PF brasileira localizou e ajudou a prender o piloto na capital argentina vigiando e seguindo a mulher e as filhas dele. A operação contou ainda com a ajuda da PF uruguaia.
Bandeira fugiu de Maceió (AL), junto com PC Farias, no dia 29 de junho de 93.
No dia seguinte, o juiz Pedro Paulo Castelo Branco, da 10ª Vara Criminal da Justiça Federal, decretou a primeira das suas três prisões preventivas -só uma, a que fora decretada pelo STF (Supremo Tribunal Federal), estava em vigor (veja reportagem nesta página).
A Polícia Federal brasileira teve certeza de que Bandeira, depois de fugir com PC, estava em Buenos Aires em dezembro do ano passado.
A mulher do piloto, Fátima Bandeira, e sua filha mais velha, Rafaela, então com 18 anos, mais o genro e o neto foram comemorar as festividades de Natal.
Por falta de comunicação com a PF argentina, Bandeira não pôde ser preso. A Folha apurou que, a partir dessa data, agentes da PF passaram a vigiá-lo em Buenos Aires e chegaram a grampear o seu telefone.
Foi esse grampo (escuta telefônica) que teria rendido aos agentes federais a pista que levou à prisão do piloto, ontem -em um telefonema cifrado, a partir do Brasil, ele foi avisado de uma nova visita da família.
Sábado passado, às 7h, a mulher, Fátima, e a filha mais nova, Mariana, 16, embarcaram em Maceió no vôo 503 da Transbrasil -é o vôo Recife-Porto Alegre, com escalas na capital alagoana, Aracaju (SE), Salvador (BA), Rio de Janeiro (RJ), São Paulo (SP), Curitiba (PR) e Florianópolis (SC).
No Uruguai
Dois agentes da PF de Porto Alegre, um deles da DRE (Divisão de Repressão a Entorpecentes), embarcaram na capital gaúcha, às 17h30, junto com a família, para Montevidéu, pelo vôo 477 das Aerolíneas Argentinas.
Eles chegaram a Montevidéu às 19h30, dormiram na capital uruguaia e, ontem pela manhã, às 7h30, pegaram um barco que faz a travessia da Bacia do Prata rumo a Buenos Aires.
Às 11h45, quando a família se encontrou com Bandeira, ele foi preso, a quatro quarteirões da sede da PF argentina.
Bandeira chegou a ser procurado também na Venezuela. Pelos depoimentos prestados por PC Farias, depois que foi preso na Tailândia, em dezembro de 93, a PF formou a convicção de que o piloto não acompanhou o empresário e permaneceu em Buenos Aires.
Acordo
A prisão do piloto é o primeiro resultado concreto dos acordos de cooperação firmados pelos Departamentos da Polícia Federal da Argentina, Brasil e Uruguai.
ministro da Justiça, Nelson Jobim, esteve há um mês em Buenos Aires para acertar o acordo.
O acordo prevê que os três países colaborem na investigação de crimes transnacionais -contrabando, narcotráfico, lavagem de dinheiro e evsão de divisas.
A mulher do piloto costumava dizer em entrevistas que Bandeira ``entrou no rolo (esquema PC) de gaiato": ``O Jorge só entrou nesse caso porque ganhou 5% das ações da Brasil Jet para poder trabalhar com maior entusiasmo", disse ela à Folha em dezembro de 94.

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