São Paulo, segunda-feira, 1 de maio de 1995
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Indústria da violência consome US$ 28 bi

FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO

A indústria da violência leva dos cofres do setor privado da economia nacional US$ 28 bilhões por ano -6,4% do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro.
A conclusão é do economista Ib Teixeira, da Fundação Getúlio Vargas. Por três anos ele comparou e pesquisou índices do que chama de ``macroeconomia da violência".
Os sistemas privados de segurança são o principal motor desta indústria, segundo Ib Teixeira: consomem US$ 15 bilhões e empregam 500 mil ``soldados".
Estes homens são vigilantes de prédios, bancos e firmas. Este ano, no Rio, um segurança de prédio matou uma estudante dinamarquesa no saguão do edifício e um vigilante bancário matou um vendedor de livros dentro da agência.
O segundo ramo mais lucrativo é o de seguro de automóveis, residências e fábricas. O estudo mostra que o setor movimentou em 94 US$ 11 bilhões, o equivalente ao PIB do Uruguai.
A prova de que a preocupação com a violência está levando o dinheiro de boa parte dos brasileiros é, segundo Teixeira, o crescimento do setor de seguros entre 1993 e 1994: 63%.
``Neste período, o PIB nacional cresceu 5,67%. É um absurdo que a macroeconomia da violência supere o desenvolvimento do país".
O investimento em equipamentos de segurança -como blindagem, alarmes e gradeamento- e o pagamento de resgates e extorsões custam somados mais US$ 2 bilhões, garante o economista.
O cálculo dos resgates em sequestros é o único que não é anual, mas referente aos últimos três anos. ``Isso é o que a gente sabe, imagine o que não é calculado", disse Teixeira.
O diretor da Divisão Anti-Sequestro do Rio, Ícaro da Silva, disse que não há cálculo possível dos resgates pagos, porque muitas vezes as famílias sequer avisam a polícia sobre o sequestro.
Este ano houve 26 sequestros no Rio. Segundo o diretor da DAS, há um número pelo menos igual de casos não-notificados.
O estudo de Teixeira revela ainda que, embora o número total de óbitos no Brasil tenha diminuído, o número de mortes violentas aumentou quase 50% entre 80 e 91.
``Isso mostra que o desenvolvimento da medicina e qualquer melhoria na expectativa de vida dos brasileiros são destruídos pela violência, que mata mais a cada dia".
Teixeira vê causas estruturais no crescimento da violência, como a explosão demográfica e o surgimento de favelas nas grandes capitais.
Aponta também a banalização de cenas de violência na televisão, a morosidade da Justiça e o atraso das leis brasileiras como fatores que incentivam a criminalidade.
``Na TV, a educação para a vida é exibida de madrugada, enquanto a educação para a morte e para a violência ocupa o horário nobre".
O estudo de Ib Teixeira será publicado na edição de maio da revista ``Conjuntura Econômica", da Fundação Getúlio Vargas.

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