São Paulo, segunda-feira, 1 de maio de 1995
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'Tinha medo da polícia', diz refém

JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MARECHAL CÂNDIDO RONDON

A babá Ana Paula Syperreck disse que a maior preocupação dos reféns, durante as 123 horas em que estiveram em poder de três sequestradores, em uma casa em Marechal Cândido Rondon (703 km a oeste de Curitiba), foi com uma possível invasão da polícia.
Quando a invasão ocorreu, ``nem deu para perceber. Foi tudo tão rápido que a gente só escutou as bombas", contou ela.
Três sequestradores mantiveram sete reféns na casa do empresário Roni Martin desde às 4h do último dia 24. A polícia invadiu o local anteontem de manhã, matando os três e ferindo uma das reféns, a fisioterapeuta Leina Reuter Martin.
Além de Leina, foram libertados sua filha, Natália, de 9 meses, Ana Paula Syperreck, 16, Ivete Scheffer, 25, empregada do casal Martin, Úrsula Kraemer, 28, e seus filhos gêmeos, Fabrício e Fabiano Martin, de 7 anos.
A Agência Folha conversou com Ana Paula Syperreck em um sítio, no bairro rural de Arroio Fundo (5 km ao sul de Marechal Cândido Rondon):
Agência Folha - Como vocês foram tratados?
Ana Paula - Muito bem. Em nenhum momento ofenderam ou agrediram a gente. A gente só sentia medo quando a polícia começava a bater nas janelas e fazer barulho. O medo era morrer se a polícia entrasse. Quando houve a invasão, só ouvimos as bombas.
Eu só percebi que estavam atirando quando já estava a caminho do hospital. Foi tudo muito rápido, nem deu tempo para sentir pavor. Agora eu fiquei com pena por eles (os sequestradores) e pela Leina.
Agência Folha - Vocês dormiram durante esses dias?
Ana Paula - O barulho da polícia só assustava a gente. Eles (os sequestradores) até se revezavam para dormir. Nós só dormimos um pouco depois de quarta-feira, quando arrumamos um colchão para todo mundo.
Agência Folha - Vocês perceberam que a polícia ia invadir?
Ana Paula - Não. A gente esperava sair com eles. Um deles me disse que já tinham tudo pronto, que iam sair, só faltava o horário ser estipulado pela polícia.
Agência Folha - O Secretário de Segurança, Cândido Martins de Oliveira, disse que houve a invasão porque eles iriam começar a executar os reféns às 8h de sábado, começando pelo bebê. Você ouviu esse telefonema?
Ana Paula - Não. Eu não acredito que tenha havido a ameaça. Eles estavam mais bonzinhos no final, achando que iam sair. Eles só ameaçaram atirar num pessoal que queria entrar para conversar, falando que eram parentes.
Nesse dia, um disse que quem entrasse além do médico (Roberto Biagi) ia ``levar chumbo".
Agência Folha - Eles racionaram a comida de vocês?
Ana Paula - Não. Foi só um dia, quando a polícia cortou a água, que ficamos uma tarde toda sem beber. Comida sempre teve.
Agência Folha - Vocês eram todas mulheres, com exceção dos gêmeos. Foram importunadas?
Ana Paula - Em momento algum. Só no início tínhamos que usar o banheiro da suíte com a porta aberta. Mas eles não olhavam. Respeitavam, né?

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