São Paulo, segunda-feira, 1 de maio de 1995
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Aposentadorias na USP crescem 55,6%

VINICIUS TORRES FREIRE
DA REPORTAGEM LOCAL

A USP está produzindo mais e com menos professores, mostra seu recém-publicado balanço. Mas a partir de 95, a queda do número de docentes pode passar a significar desmonte de cursos em vez de eficiência. A causa: aposentadorias em massa provocadas pelo medo da reforma da Previdência.
Em relação a 1994, subiu 55,6% o número de aposentadorias na Universidade de São Paulo.
Em alguns setores da Letras a debandada de professores já atinge 40% e pode aumentar, segundo Benjamin Abdala Jr., chefe do Departamento de Letras Cássicas e Vernáculas.
Abdala, 27 anos e meio de magistério, estima que cada departamento da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) possa perder pelo menos 30% dos seus quadros -e dos melhores e mais experientes.
O crítico literário Davi Arrigucci Jr., 51, autor do estudo mais reputado sobre o poeta Manuel Bandeira, completa 30 anos de ensino em novembro. Ganha cerca de R$ 3.000 líquidos, renda que manteria depois de aposentado. Teme que, com a reforma da Previdência, se aposente com cerca de R$ 1.000.
``As reforma não está clara e até agora o governo disse apenas que vai garantir os direitos adquiridos relativos ao tempo de trabalho. Se minha renda for cortada, me aposento", diz Arrigucci.
O professor de teoria literária pretende continuar a dar aulas na USP depois de aposentado. Não arrumaria emprego em outras universidades brasileiras, ganhando outro salário, como fazem muitos professores-titulares.
``A reforma causou um certo pânico. As pessoas não estão preparadas para uma mudança nas regras do jogo. Não pagaram montepios (previdência particular) nem tinham renda para tanto", disse.
Além de perder bons quadros, setores da Universidade de São Paulo podem ficar parecidos com cursinhos pré-vestibulares, com classes apinhadas de alunos.
No ano passado, Abdala já tinha 508 alunos em quatro turmas no curso de literatura africana. Professores de língua portuguesa eram responsáveis por 300 estudantes.
Abdala diz que, nas reuniões dos departamentos da Letras, já estão sendo propostos o fim de um turno do curso (o noturno, por exemplo) ou o corte de vagas.
A idéia teria de ser aprovada no ``Congresso" da universidade, o Conselho Universitário, mas mostra o grau de insegurança causado pela possibilidade da reforma.
Segundo a USP, não há debandada em massa de professores. Segundo a assessoria de imprensa da reitoria da universidade, o aumento de 55,6% nos pedidos de aposentadoria do primeiro trimestre de 1995 em relação ao primeiro de 1994, apesar de aparentemente significativo, ocorre sobre uma base pequena.
Nesse período do ano passado, se aposentaram 36 professores, contra 56 até março de 95. Este, número, no entanto, já é maior do que o total da redução do quadro de docentes de 1994 em relação a 1993 -foram 48.
Segundo a USP, cerca de 800 professores, de um quadro em torno de 5.200, estariam em condições de se aposentar. Ou seja, o movimento real de fuga seria pequeno.
Para Abdala, no entanto, a calma é apenas aparente. ``A Faculdade de Filosofia, Ciências Humanas e Letras (FFLCH) pode perder 30% dos seus quadros se as pessoas perderem 70% de sua renda." Seriam cerca de 130 professores.
``Isso deve ser a tônica na FFLCH, que conheço bem, mas nos departamentos em que a carreira acadêmica não permite ligações com a iniciativa privada, como a Biologia e a Educação, a situação deve se repetir. Talvez, a Escola Politécnica ou a Faculdade de Medicina escapem disso", diz Abdala.

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