São Paulo, segunda-feira, 1 de maio de 1995
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Central sindical de papel

LUÍS NASSIF
CENTRAL SINDICAL DE PAPEL

O artigo de Antônio Neto, presidente da CGT (Central Geral dos Trabalhadores) -com críticas contra a coluna-, é relevante apenas por permitir uma avaliação mais crítica sobre o sistema de representações na sociedade civil. Contivesse alguma idéia própria e serviria para mais coisas, como alimentar uma boa polêmica.
Nas modernas sociedades democráticas, há duas maneiras de legitimar a ação de entidades civis.
A primeira, através de sua atuação dentro dos limites institucionais. No caso de uma central sindical, por sua capacidade de mobilizar sindicatos e atuar nos fóruns oficiais.
A segunda, através do espaço que encontra na mídia. Tome-se a mais desmoralizada associação civil, confira-se-lhe espaço em jornal sério e, imediatamente, ela ganha status político.
1982 foi o ano que marcou o início dos movimentos não-institucionais na sociedade civil.
A partir das ações judiciais contra o aumento das prestações do SFH (Sistema Financeiro da Habitação) -deflagradas a partir de seminário promovido em conjunto pelo colunista e pela Ordem dos Advogados do Brasil, seccional São Paulo (OAB-SP)- surgiram dezenas de associações de defesa dos mutuários.
Algumas atuavam seriamente, outras serviam de massa de manobra para partidos políticos ou para candidatos a deputados e muitas delas de fachada para escritórios de advocacia sem expressão.
Certa falta de critério das pautas permitiu o aparecimento de entidades fantasmas que só existiam nos jornais. Elas representam para esses movimentos não-institucionais o mesmo que os partidos-fantasmas e legendas de aluguel para a legislação eleitoral.
Bastava um escritório autodenominar-se Associação dos Mutuários Paulistas, ou coisa que o valha, para imediatamente dispor de espaço na imprensa para cooptar sua clientela.
O que é a CGT
Se nos anos 70 a sociedade civil dispunha de pouco espaço na imprensa, hoje a oferta de espaço é abundante, acirrada pela própria competição entre os órgãos de imprensa -papel essencial para superar o oligopólio institucional criado pela legislação getulista.
Ganha espaço em um jornal simplesmente porque entrou antes no outro e, antes, no outro. Até que alguém repare que o rei está nu.
Nem os piores adversários podem discordar da legitimidade institucional e não-institucional da CUT (Central Única dos Trabalhadores) e da Força Sindical.
Mas o que é essa CGT? Na sexta, o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, Paulo Pereira da Silva, encaminhou fax ao jornal e ao colunista, com algumas informações sobre a entidade.
Um pequeno resumo:
1) O sr. Antônio Neto e a CGT não representam nada para o movimento sindical brasileiro. Se a CGT tiver mais que seis sindicatos filiados, é muito.
2) A FSM, central sindical internacional que ela diz representar, também não existe desde que acabou o comunismo, com a queda do Muro de Berlim.
3) O sr. Antônio Neto nunca dirigiu sequer uma greve ou manifestação de qualquer natureza. A única baboseira que defende é a manutenção do Imposto Sindical, sua mais ferrenha subsistência.
4) Com as reformas constitucionais, temos esperança de ver aprovada a liberdade sindical, para que figuras cartoriais dessa estirpe saiam definitivamente do movimento sindical. Os trabalhadores não merecem isso.

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