São Paulo, segunda-feira, 1 de maio de 1995
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Fracassa renovação de trégua na Bósnia

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Bósnios e sérvios rejeitaram ontem um plano das Nações Unidas para renovar um cessar-fogo de quatro meses que termina hoje às 7h (hora de Brasília).
"Discutimos a possibilidade de extensão... e lamento que a resposta que recebemos até agora não tenha sido positiva", disse o enviado especial da ONU, Yasushi Akashi, após conversas com o premiê bósnio, Haris Silajdzic.
Em outro encontro, o líder dos sérvios da Bósnia, Radovan Karadzic, também recusou a Akashi a prorrogação do cessar-fogo.
O governo bósnio, de maioria muçulmana, combate os sérvios da Bósnia há três anos. Os sérvios controlam 70% do território e se recusam a aceitar um plano internacional para dividi-lo ao meio.
A derrota da tentativa da ONU de ampliar a trégua deve causar uma nova escalada no conflito bósnio, intensificado por uma série de violações ao cessar-fogo.
O governo bósnio parecia relutante em aceitar qualquer compromisso com a renovação, embora tenha afirmado que relutaria "ao máximo a lançar novos ataques".
Para isso, os bósnios exigem a interrupção de ataques a civis e o retorno dos comboios de ajuda humanitária à capital sitiada, Sarajevo. Os vôos da ONU ao aeroporto local foram interrompidos há três semanas devido a ameaças sérvias.
"A situação em Sarajevo está piorando progressivamente", disse Kris Janowski, porta-voz do Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados).
Os bósnios também condicionaram a renovação do cessar-fogo a um compromisso sérvio em aceitar o plano internacional de paz.
"As conversações sobre o cessar-fogo não devem esconder que os sérvios recusam o plano de paz. Esse é o maior problema", disse Silajdzic.
As condições impostas pelo bósnio para renovar a trégua refletem uma maior confiança em que possam deter a máquina militar sérvia.
A ameaça feita por governos ocidentais, como a França, de retirar soldados das forças de paz da ONU na região é vista pelos bósnios como chantagem para que se rendam e deixem 70% do território em mãos sérvias.
Já o líder sérvio disse que as hostilidades não seriam interrompidas sem o fim do embargo internacional de armas à região. Os bósnios também exigem a revogação do embargo.
Karadzic afirmou que os sérvios prefeririam uma interrupção permanente nas hostilidades a uma temporária.
"Estamos prontos para discutir um acordo temporário, desde que sejamos tratados igualmente como dois lados", afirmou Karadzic.
Os sérvios da Bósnia prefeririam se unir à atual Iugoslávia (que só reúne duas das seis antigas repúblicas iugoslavas: Sérvia e Montenegro), e contestam a Federação Muçulmano-Croata formada para governar a Bósnia.
Até hoje, embora haja um governo bósnio reconhecido, a federação apoiada pelos países ocidentais não saiu do papel, supostamente por causa da guerra.
Os esforços da ONU para deter o conflito também têm fracassado.
Rebeldes sérvios que controlam a região croata da Krajina (a noroeste da Bósnia) atravessaram a fronteira bósnia no fim-de-semana e atacaram o encrave muçulmano de Bihac (também no noroeste).
Dois aviões bombardearam posições do Exército bósnio em torno da cidade, uma das regiões que devem ser resguardadas de ataques segundo determinação das ONU.
Ao mesmo tempo, a artilharia dos sérvios da Krajina atacou o lado oeste do encrave com morteiros, bombas e tanques.

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