São Paulo, segunda-feira, 1 de maio de 1995
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Violência periférica

MARCELO BERABA

SÃO PAULO - A criminalidade violenta explodiu nas grandes cidades brasileiras no final da década de 70.
O fenômeno coincidiu com o início do esgotamento de quase 20 anos de regime fechado em que os poderes constitucionais -Executivo, Legislativo e Judiciário- foram subjugados por dois poderes maiores: o militar e o policial.
Foi um longo período em que o bolo cresceu, mas não foi dividido, em que o país ia bem, mas o povo mal. Não havia democracia, nem distribuição de renda, nem justiça social.
Os anos 80 foram perdidos sob o ponto de vista econômico. A transição foi lenta e gradual para o país e segura para os seus protagonistas.
Os militares aos poucos saíram de cena, mas o Estado policial sobreviveu nos esquadrões-da-morte, nas polícias despreparadas e cúmplices da violência, na impunidade.
O terror antes restrito às baixadas fluminenses e às periferias das grandes cidades se espalhou para os bairros de classes média e alta e vulgarizou o crime violento.
O que podemos esperar desta década de 90? Ainda não concluímos a transição política e já somos obrigados a reformá-la. Vamos sendo sugados pela globalização da economia sem que consigamos superar modos de produção arcaicos típicos de nossa periferia.
E como nos posicionar diante do crime organizado transnacional que o mundo começa a discutir em Cairo se somos incapazes de estancar a violência diária que nos consome?
As chacinas, as execuções sumárias, os sequestros e assaltos violentos não têm o charme hollywoodiano das ações das máfias e dos cartéis, nem a espetacularidade dos ataques terroristas.
Mas são essas ações miseráveis, que se repetem diariamente em lugares miseráveis, autores e vítimas miseráveis, que estão nos derrotando sem piedade.
É impossível pensar em desenvolvimento e democracia, em economia globalizada e combate ao crime transnacional, se toleramos essa situação.

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