São Paulo, domingo, 7 de maio de 1995
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Leia íntegra de documentos

DA REDAÇÃO

Segue abaixo íntegra da carta que o então presidente dos EUA, Lyndon Johnson, enviou a Castello Branco, presidente brasileiro.
No texto, o presidente norte-americano agradece ao governo brasileiro o envio de café ao Vietnã, mas deixa claro que espera uma contribuição mais efetiva: homens na guerra.
No segundo documento transcrito abaixo, William Bowdler, assessor do conselho de Segurança Nacional, envia relatório a McGeorge Bundy, assessor especial da Presidência dos EUA, em que relata empréstimo de US$ 150 milhões dos EUA ao Brasil.
Ele deixa claro em seu relatório que Castello Branco devia estar ciente de que Johnson queria aumentar o número de países no Vietnã e que esperava contar com a ajuda do Brasil.

Embaixada norte-americana Rio de Janeiro
25 de julho de 1965
PARA O EMBAIXADOR
A mensagem mencionada num telegrama anterior é a seguinte:
``Caro Sr. Presidente,
Pedi a meu Embaixador que levasse ao senhor minha avaliação franca da situação vigente no Vietnã do Sul. O secretário Rusk me informou que já cobrira a situação de modo detalhado com o chanceler Leitão da Cunha durante a visita deste a Washington, em abril, e desejo que seu governo seja mantido a par dos acontecimentos naquele país.
Nos últimos meses, a agressão aberta contra o povo e o governo do Vietnã do Sul vem aumentando, e pressões muito fortes vêm sendo impostas sobre as Forças Armadas do Vietnã do Sul e o povo sul-vietnamita.
Durante esse mesmo período, como o senhor sabe, esforços repetidos e criativos por parte de muitos governos não conseguiram levar esse problema à mesa de conferências devido à determinada e rígida oposição de Hanói e Peiping.
Nos últimos dias, venho revendo esta situação à luz de informes atualizados recebidos de meus assessores de maior confiança. Embora ainda não tenham sido tomadas decisões finais aqui, posso dizer ao senhor que já parece certo que será necessário aumentar as forças armadas dos Estados Unidos presentes no Vietnã do Sul em um número possivelmente igual ou superior aos 80 mil que já estão lá.
Quero que o senhor saiba que, enquanto fizermos este importante esforço adicional, continuaremos também a fazer todos os esforços políticos e diplomáticos possíveis para abrir caminho para um acordo pacífico.
Também continuaremos a utilizar todos os cuidados e as restrições para assegurar que a guerra não se espalhe para a Ásia continental. Nosso objetivo continua sendo o fim da interferência externa no Vietnã do Sul, de modo que o povo desse país possa determinar seu próprio futuro.
Nesta situação, devo expressar ao senhor minha profunda convicção pessoal de que as perspectivas de paz no Vietnã aumentariam muito à medida que os esforços necessários dos Estados Unidos fossem apoiados e compartilhados por outras nações que compartilham nossas metas e nossas preocupações. Estou ciente de que o governo do Brasil já está fazendo notáveis contribuições de muitos tipos em outras partes do mundo. De fato, me senti especialmente encorajado pelo papel histórico que está sendo desempenhado pelo Brasil, neste hemisfério, na solução da crise na República Dominicana, onde o general Panasco Alvim e as forças brasileiras estão agora atuando com tanta distinção, e no fortalecimento da Organização dos Estados Americanos.
Fui informado de que o governo brasileiro já providenciou o envio de café e medicamentos para o Vietnã, através da Cruz Vermelha Brasileira, e tenho certeza de que esses artigos são muito necessários àquele país. Em vista das atuais circunstâncias, porém, parece que se fará necessária ajuda adicional, e estou muito interessado em conhecer seu ponto de vista em relação a que tipo de assistência adicional o governo brasileiro talvez pudesse fornecer.
Sinceramente,
Lyndon B. Johnson"
O RELATÓRIO DE BOWDLER
CASA BRANCA
Washington
13 de dezembro de 1965
MEMORANDO PARA O SR. BUNDY
Referente a: Programa de Empréstimo Brasileiro
No Anexo A (Tab A) está o telegrama que enviamos a Linc Gordon no sábado passado. Destinava-se a fazê-lo saber que o empréstimo foi aprovado e também a conseguir que se comprometa a fazer uma proposta de impacto sobre a questão do Vietnã.
O Anexo B contém a resposta muito construtiva e bem-pensada de Linc. Resumindo, o que ele diz é que conquanto Castello Branco pessoalmente esteja disposto a ajudar, há uma série de obstáculos legais e políticos que fazem com que seja extremamente difícil e arriscado para ele entrar em ação a não ser que seja preparado um clima no qual ele possa contribuir com forças sem dar a impressão de estar sendo subserviente em relação aos EUA. O telegrama de julho passado que Linc menciona está no Anexo C.
Os argumentos de Linc são muito persuasivos e corretos. O governador Harriman os aceita.
Numa conversa com Harriman e Bunker hoje de manhã, esboçamos o seguinte plano:
1. Gordon diria a Castello Branco que:
a) Apesar da situação econômica muito apertada que enfrentamos em consequência das exigências do Vietnã, o presidente autorizou pessoalmente a concessão de um empréstimo de US$ 150 milhões devido a seu interesse em ver Castello Branco recolocar o Brasil de pé, econômica e politicamente.
b) O presidente também quer que ele esteja ciente de suas dificuldades em relação à situação do Vietnã e quer solicitar a assistência de Castello Branco para ajudá-lo a lidar com elas. Gordon explicaria a necessidade de mais países no Vietnã e expressaria a forte esperança do presidente de que Castello Branco envie forças para o Vietnã o mais rapidamente possível. Gordon não vincularia esse pedido à autorização do empréstimo.
Recomendo que o senhor procure obter a aprovação do presidente para este plano.
WGBowdler"

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