São Paulo, segunda-feira, 8 de maio de 1995
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O caso Sivam

O governo pretende gastar US$ 1,4 bilhão no Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia). Trata-se de uma soma alta demais para ser despendida sem que antes se mostrem a necessidade e o correto dimensionamento do projeto, sobre o qual, de resto, pairam imensas dúvidas quanto à lisura com que vem sendo conduzido.
Quanto à necessidade, ela não é consenso nem mesmo entre os militares. As pesadas críticas do general da reserva Thaumaturgo Sotero Vaz, ex-chefe do Estado Maior do Comando Militar da Amazônia, ao projeto, que qualificou de ``elefante branco", sugerem que as autoridades ainda devem à sociedade uma explicação sobre a real necessidade de monitorar a Amazônia por um tão complexo sistema de radares.
A conjuntura atual, em que faltam verbas para quase todas as áreas, em que se fala em cortar gastos públicos, exige que todos os projetos de investimento do governo sejam muito bem explicitados.
Mesmo que se suponha que a monitoração da Amazônia seja uma prioridade para o Brasil, deve-se perguntar se o Sivam não foi superdimensionado. Será que de fato é necessário gastar US$ 1,4 bilhão? Alternativas menos ambiciosas não seriam capazes de poupar alguns milhões aos cofres públicos?
Também existem dúvidas quanto à necessidade de promover uma concorrência internacional para o projeto, num jogo que envolveu pressões de diversos governos e -fala-se- até na atuação da CIA. Será que o Brasil de fato não tem tecnologia para construir um sistema de radares capaz de cobrir a Amazônia, talvez com algumas vantagens para o erário?
Essas são mais algumas dúvidas que se vêm somar ao emaranhado de suspeitas que recobre o tortuoso caso Sivam. Um governo que alega não ter recursos para a saúde e educação tem de esclarecê-las antes de gastar US$ 1,4 bilhão num sistema de radares.

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