São Paulo, domingo, 14 de maio de 1995
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Fim de acordo não foi retaliação, diz Geisel

GILBERTO DIMENSTEIN

Diretor da Sucursal de Brasília
O ex-presidente Ernesto Geisel discorda da idéia de que, ao romper o acordo militar com os EUA, em março de 1977, estivesse reagindo à ofensiva norte-americano contra o acordo nuclear entre o Brasil e a Alemanha.
Com o rompimento do acordo com os EUA, firmado em 1952, o Brasil não mais receberia armas e ajuda técnica dos norte-americanos.
A decisão teve ampla repercussão, ponto alto de tensão entre os dois países.
A decisão vinha na esteira da nova política externa brasileira que, fugindo aos caminhos do movimento militar de 1964, recusava-se ao alinhamento com os Estados Unidos.
Ernesto Geisel adotou o que se convencionou chamar de política ``terceiro-mundista", com ênfase em países da África ou América Latina.
Aproximava-se também da União Soviética e dos países árabes. Daí o voto contra o sionismo na ONU e a aproximação com os ideais da Organização para Libertação da Palestina (OLP).
A razão principal para o rompimento do acordo militar, segundo ele, era a pressão dos EUA em relação à política de direitos humanos no Brasil, uma das bandeiras do presidente Jimmy Carter. ``Não podia sujeitar o Brasil à interferência externa", afirma Geisel.
No fim de 1976, o Departamento de Estado preparou um texto crítico apontando desrespeito aos direitos humanos no Brasil. Falava-se de tortura, assassinatos e coação contra estudantes e demais movimentos populares.
Outros tempos
Acabara-se o tempo em que o então secretário de Estado, Henry Kissinger, amigo do chanceler Azeredo da Silva, minimizava questões como direitos humanos, privilegiando a ofensiva contra o comunismo.
O Congresso americano determinou que os países que desejassem receber ajuda militar deveriam se sujeitar a uma inspeção sobre direitos humanos.
``O Senado americano queria ser o juiz dos problemas dos direitos humanos no Brasil. Eu não podia aceitar isso. Era uma intromissão", lembra Geisel.
Naquela época, o responsável pela América Latina no Conselho de Segurança Nacional era Robert Pastor, um ex-professor de Harvard.
Inspirando gerações
Pastor é o responsável por tirar o nome do então professor Fernando Henrique Cardoso da lista de suspeitos do governo americano.
``Eu dizia ao Carter: você vai se antagonizar agora com os militares, mas vai inspirar uma geração", disse à Folha Robert Pastor.
Há, porém, algumas coincidências, que reforçam a suspeita de que, por trás do rompimento do acordo, em março de 77, também estava a questão nuclear.
Na mesma semana em que se comunicou o rompimento do acordo, o diplomata Warren Christopher, hoje o secretário de Estado, esteve na Alemanha, onde negociava questões nucleares. Entre seus objetivos estava barrar o acordo com o Brasil.
(GD)

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