São Paulo, segunda-feira, 15 de maio de 1995
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PT recua e desiste de punir deputados

FERNANDO RODRIGUES
DA REPORTAGEM LOCAL

A Comissão Executiva Nacional do Partido dos Trabalhadores não conseguiu punir nem reenquadrar os deputados federais paulistas José Genoino e Eduardo Jorge.
Genoino e Jorge eram acusados por integrantes da direção petista de não seguirem, no Congresso, as orientações partidárias sobre as reformas na Constituição.
Em reunião que durou 6 horas e 35 minutos, no sábado, os dois parlamentares foram ouvidos pela Executiva. Saíram sem punição e com o discurso liberal de sempre.
Genoino e Jorge são integrantes da tendência (agrupamento) petista ``Democracia Radical". Dentro do partido, são considerados de ``direita". Defendem posições mais liberais para o PT nas reformas.
Genoino aceita, por exemplo, a a iniciativa privada atuando nas telecomunicações -desde que o Estado mantenha o poder regulador. A posição oficial do PT é contra a presença privada nessa área.
Como a direção do PT é dominada pelos agrupamentos de esquerda e de centro, Genoino e Jorge foram chamados para um enquadramento. Os dois eram acusados de desvios táticos.
Genoino, segundo a direção petista, deveria evitar dar declarações de voto expressando posições contrárias às do partido.
Além disso, a ``Democracia Radical" era acusada de fazer pouco caso da direção partidária. Detém duas vagas na Executiva Nacional, mas não as preenche.
Não-questões
Genoino e Jorge chegaram para a reunião de sábado argumentando que as acusações eram ``não-questões", e que a direção nada poderia cobrar dos dois.
``Nunca votei contra o partido. De falar, não vão poder me proibir", disse Genoino.
Para Jorge, ``a emenda da Previdência é de todos os deputados da bancada que a assinaram e, além disso, o regimento da Câmara não permite a sua retirada".
Com essa argumentação lógica, os dois irritaram os integrantes da Executiva. Do lado de fora da sala, no hotel Danúbio (centro de São Paulo), era possível ouvir berros dos participantes do debate.
Mesmo em minoria, a ``direita" acabou fazendo prevalecer os seus argumentos. Saíram derrotados o centro, centro-esquerda e extrema-esquerda do PT, apesar de dominarem a direção partidária.
O resultado da reunião foi expresso em um documento. Obrigada a recuar na sua intenção de punir os parlamentares, a direção negou seu objetivo inicial.
O ponto número cinco do documento informa que a reunião não era um ``processo de julgamento e punição". Isso não é verdade.
A Folha teve acesso a uma proposta de moção pedindo ``medidas concretas" contra José Genoino, pois esse deputado estaria ``encaminhando posições contrárias àquelas decididas pelo partido".
Redigida por Markus Sokol, da tendência de extrema-esquerda ``O Trabalho", a proposta de moção não foi apresentada formalmente. ``Ficou guardada no armário", disse Sokol ao final do encontro.
A esquerda e o centro devem voltar à carga contra Genoino e Jorge nos dias 20 e 21, quando se reúne o Diretório Nacional do PT.

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