São Paulo, segunda-feira, 15 de maio de 1995
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FESTA NA GANGUE

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Está marcada para amanhã em São Paulo uma festa que, para os menos avisados, parece até rebelião no presídio. É o show do Body Count, banda de Ice T, que deve estar lotado com os gangsta rappers brasileiros.
Ice T é um dos mais ``malvados", radicais e polêmicos representantes do gangsta, um tipo de rap violento, feito, em geral, por cantores negros com passagem pela polícia, como o próprio Ice-T e Snoop Doggy Dog.
As letras falam de gangues, crimes, armas, sexo e, principalmente, mal da polícia.
O ódio aos policiais vira hino em letras, como ``Cop Killer" (matador de tiras), de Ice-T, que gerou protestos nos EUA. A música foi censurada nas rádios e o CD chegou a ser recolhido das lojas norte-americanas.
Ice-T causa polêmica também entre os rappers brasileiros, divididos entre os fãs e os críticos.
``Queria estar do lado do Ice-T e apertar a mão do cara", diz Camburão, da banda Pavilhão 9.
Seguindo a linha gangsta, o Pavilhão 9 surgiu cantando músicas contra a polícia (``Otários Fardados", de Piveti, que saiu do grupo e agora grava solo) e cobrindo os rostos com capuzes.
Camburão promete ir ao show, mas prefere não chamar Ice-T de ídolo. ``Ídolo pra gente é Deus, o Ice-T é só um professor", diz.
Outros torcem o nariz para a mistura de rap e rock pesado que virou a marca de Ice-T e seu grupo Body Count.
``A mistura que eles fazem com rock branco corta um pouco o barato de quem gosta de rap", diz Marcelo 2 Dabone, produtor de rap e criador do Pavilhão 9.
``Acho que o som deles pega mais o pessoal grunge e os skatistas que os rappers", diz. ``Pessoalmente, prefiro o rap inteligente de grupos como De La Soul e A Tribe Called Quest."
Dabone aproveita para atacar o rap nacional. ``O rap brasileiro está pelo menos 28 anos atrasado. Só ouço o que presta, que é o que vem lá de fora", afirma.
``Não iria a São Paulo pra ver o show. Só se me pagassem", diz Paulo Rei do Crime, da banda Cirurgia Moral, de Brasília.
Para ele, o último disco do Body Count, `` não é lá essas coisas, está meio devagar".

SHOW DO BODY COUNT:
Em São Paulo:
Olympia: rua Clélia, 1.517 - Pompéia, SP; censura 16 anos; ingressos: pista - R$ 20,00, setor C - R$ 30,00, camarote - R$ 40,00; Horário: 22h; telefone: (011) 252-6255

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